de como percebemos o mundo

conversando ontem com minha amiga mais antiga e querida, sem querer esbarrei no assunto do último post, sobre relacionamento pais e filhos. conversávamos sobre nossas terapias (já terminadas) e o que descobrimos nesse processo.

somos pessoas muito diferentes, seja na forma que fomos educadas, seja no temperamento. temos em comum a escolha da profissão (aos 17 anos; hoje em dia mudou tudo) e o gosto pela reflexão, pela arte. curiosamente, no entanto, descobrimos que vários dos nossos “problemas” tratados na terapia são comuns.

a terapeuta dela foi indicada pela minha. a atuação de ambas se tornou um marco nas nossas vidas, elas foram agentes de uma mudança que nos tornou mais independentes, seguras e felizes. eu não sabia, mas as duas terapeutas seguem a linha da terapia cognitiva, que pra nós foi perfeita.

uma das muitas coisas que descobri durante o tratamento é que meus pais tiveram enorme influência em todos os problemas e dificuldades que eu enfrento hoje em dia. o que eles fizeram ou deixaram de fazer por mim quando criança “moldaram” muito do que eu sou. por exemplo: meus pais sempre procuraram nos criar sem frescuras, evitando excesso de “mimo”. mas erraram na mão: nós tínhamos que nos contentar com o que quer que fosse oferecido, sem reclamar.

além de me perceber melhor, descobri também o seguinte: a forma como eu lidei com essa “característica” dos meus pais é completamente oposta à forma como minha irmã lidou com a mesma coisa. eu me tornei excessivamente permissiva, aceitando qualquer coisa de bom grado, me contentando com migalhas (de atenção, de tudo); minha irmã, por outro lado, recusa tudo o que não é exatamente o que ela quer, uma eterna insatisfeita.

minha primeira reação às descobertas foi culpar meus pais. mas quando descobri meus mecanismos de lidar com incômodos e problemas, o mito dos pais perfeitos caiu. meus pais erram! eles são, como eu, humanos. e caiu ao mesmo tempo o mito dos pais carrascos: eles não são maus e muito menos culpados pelos meus problemas. são agentes importantes, é claro, mas tudo aquilo que me tornei tem relação direta com a forma como eu me relaciono com o mundo e a vida.

enxergar meus pais como humanos e entender que eu sou mais do que simplesmente resultado do que eles moldaram foi, pra mim, o primeiro passo para a vida adulta. quando parei de culpá-los ou responsabilizá-los pelos rumos da minha vida me tornei adulta, percebi que minha felicidade está nas minhas mãos somente. meu amor por eles aumentou de uma forma que não acreditava possível e os perdoei por todos os “erros”.

aliás, percebi que não há possibilidade de interagir com ninguém sem “erros”. até porque o que uma pessoa percebe como erro é acerto pra outra. como bem disse minha querida terapeuta: não há possibilidade de ser perfeito em nenhum relacionamento, especialmente na relação pais-filhos. o que um filho acha bom o outro acha execrável, não adianta tentar seguir fórmulas.

os princípios e os valores são mais importantes que as regras ou situações pontuais. exemplifico: por mais que meus pais possam ter errado nas suas regras ou ações pontuais, eles deixaram uma base sólida e consistente que hoje me dá condições de superar os meus próprios problemas e ainda ser eu mesma. graças à base de valores e princípios que eles me deram, posso ser uma “eu mesma melhorada”, e só depende de mim.

culpar seus pais pelos seus erros e problemas é ser criança, não importa qual é sua idade. eles fizeram o melhor que puderam e agora é sua responsabilidade ser alguém melhor, evoluir. e talvez essa seja a raiz do que eu comentava no post anterior: pais que não são adultos ainda, daquele tipo que diz cheio de orgulho — “vou dar ao meu filho o que meus pais nunca me deram”. pensamento vingativo e simplista, típico das crianças.

acredito que serei uma mãe melhor hoje do que eu seria com 20 anos, pois agora sei que não preciso “compensar” com meus filhos os “erros” que achava que meus pais tinham cometido. posso e vou errar, mas sempre com base nos valores e princípios que eu acredito e prezo.

finalmente, falando de relacionamentos em geral (pais-filhos é só um deles, afinal): creio que ser coerente e seguro de si mesmo é mais útil para estabelecer relacionamentos saudáveis que todas as dicas e regras do mundo. e que assumir a responsabilidade pela sua própria felicidade e seus erros é essencial para se considerar adulto.

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  1. Zel, achei seu cantinho por acaso procurando informações sobre ferrets…AMEI tudo q vc escreveu!!! Parabéns por entender tanto e amar esses animais 🙂 Fiquei mais encantada do q já estava lendo seus relatos…a Meg faz 2 meses hj, peguei ela tem 2 semanas e ainda estou apanhando, haha, como ela morde meu Deus…mas é minha fofa e estou adorando. Andei olhando as fotos dos seus bebês, LINDOS demais…tudo de bom, fique com Deus, bjssss

  2. zel, me passa o contato da sua terapeuta?…

    venho de vez em qdo aqui, e acho q tô precisando “perdoar” meus pais…

    muito bacana seu post sobre as mães, e depois sobre sua relação com seus pais.

    sou mãe de 3 (18, 13 e 3), e lido bem na boa com isso (eu acho, né?!). adoro ser mãe, mas existe uma distância enooorme com meus pais.

    na verdade, nem acho q tô precisando perdoá-los… acho q tô querendo entender melhor essa dinâmica, pra poder engulir melhor a distância, pra poder seguir em frente…

    deu pra entender??

    bjs

  3. Zel… demorei pra tomar coragem e reservar 5 minutos pra ler este texto… não porque seja extenso, mas porque o assunto é dos mais importantes pra mim que ainda não aprendi a ser adulta…

    Tenho passado por poucas e boas e até ouvi um vá se tratar… o que dói bastante, mas é a necessidade…

    será que a sua terapeuta mágica não teria como me indicar uma forma de eu fazer uma terapia que não me deixe sem as calças? se puder me passar o telefone dela pra eu poder conversar agradeço de coração.

    fique bem =)

  4. Zel… eu de novo! rs pedi o contato da sua terapeuta mas mudei de e-mail, deletei a conta do gmail por questoes de segurança (é meu caso tá bem grave! rs) se puder me mandar o contato neste e-mail eu agradeço mesmo… de coração…

    beijinho

    Eliane

  5. EI ZEEEEEEEEEEEELLLLLLLLLL

    Gostaria muitíssimo do contato da sua terapeuta cognitiva-comportamental… Não acho profissionais dessa linha… Os psicanalistas dominam :/ Aliás minha amiga que faz psicologia vai seguir psicanálise por ser mais fácil de ser estudada…Talvez um motivo para a carência dos cognitivos.

    Brigada!! Meu email: meninacarioca195@hotmail.com

    Beijinhos

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