sabe que tou pra dizer isso faz tempo e vou adiando, mas: como eu acho chata essa onda de “como ser uma mãe moderna” e todo o hype em torno do assunto maternidade!
não consigo deixar de pensar que tem alguma coisa errada quando vejo dezenas, centenas de mulheres se debatendo com questões tipo “como ser mãe e continuar sendo uma pessoa” ou “como ser mãe e ser profissional”. na minha cabeça isso é manchete de revista feminina da década de 70… parei pra prestar um pouco de atenção e me dei conta do seguinte: talvez eu tenha crescido numa família diferente e não me tinha me dado conta.
me acompanhem: minha mãe tem 54 anos e foi mãe pela primeira vez em 1972 (quando eu nasci), ou seja, faz um bom tempo. teve 3 filhos de parto natural, assim como a maior parte das minhas tias. me lembro perfeitamente de acompanhar gravidez e processos de parto sem nenhum tipo de glamour ou drama: tudo natural e simples. papos sobre concepção, gravidez, parto e amamentação eram e são naturais até hoje. as crianças ajudavam a trocar fralda e cuidar dos outros bebês, inclusive.
cuidar das crianças e trabalhar sempre foi uma constante para todas as mulheres da família. minha mãe teve 3 filhos na seqüência e pouco antes do meu irmão ter 2 anos ela trabalhava o dia todo e meu pai também. tínhamos empregada ou ficávamos com nossas avós, como aliás acontecia também com nossos primos. novamente, nenhum drama sobre ter filhos e trabalhar.
meus pais (e todos os casais da minha família) sempre mantiveram uma relação sexualizada, como se espera de um casal. bem, minha mãe ficou grávida dos meus irmãos exatamente na seqüência da quarentena dos partos, preciso dizer mais? eles sempre foram pais pra nós e casal entre eles, a vida sexual se manteve e eles não tinham problema nenhum em demonstrar isso inclusive pra nós. que história é essa de “mãe não tem sexualidade”? não sei do que se trata.
nós, crianças, comíamos em horários pré-definidos e separados dos pais (e era assim com o restante das crianças da família), meus pais sempre tiveram seu espaço, seus programas próprios e seus horários. havia assuntos e horários “família” e assuntos e horários só deles. absolutamente saudável, eu diria. e essa história de comer resto de comida de criança?! meus pais nunca fizeram isso, credo!
meus pais tinham amigos gays, lésbicas, pretos, japoneses, deficientes, maconheiros, traficantes, mauricinhos, tudo que é tipo. nunca se preocuparam em dar explicações pra nós sobre “diversidade”, as coisas são como são, sem grandes teorias. preconceitos e piadinhas existiam, sim, mas sem alvo preferencial. o único perfil que mereceu destaque do tipo “evite a qualquer preço” é o de pessoas que não gostam de animais. e milicos, apesar do meu avô por parte de pai ter sido militar.
que drama é esse que existe hoje em dia de pais se sentirem culpados por trabalhar? e essa história dos adultos não conseguirem criar espaços “de adulto” porque têm filhos? que nhé-nhé-nhé é esse com a sexualidade das mães? isso é obviamente invenção moderna, já que antigamente a mulherada tinha 10 filhos, um seguido do outro, e todos sabemos como se fazem os bebês. minha mãe e todas as mulheres da minha família criaram dezenas de filhos E trabalharam E continuaram trepando com seus maridos E deram conta do recado, muito obrigada.
fico me sentindo no século passado quando leio as dúvidas existenciais e as dicas de mães ou futuras-mães por aí. nenhum desses dramas me assola, francamente; o que me preocupa e deixa sem sono em relação a ser ou não mãe é pra quê diabos vou eu colocar outro humano nesse mundo tão bizarro?
e vejam vocês, que conclusão: a minha parcela de contribuição para as geração de mulheres da minha família é uma involução, adicionei uma questão filosófica inútil e sem resposta. elas é que deviam estar certas: nunca se fizeram perguntas irrelevantes nem se preocuparam com dramas existenciais e cumpriram muito bem nosso propósito primário: procriar.
Zel,
acho sim que você cresceu numa família um pouco atípica, mas você tem razão quanto às frescuras de hoje em dia. No ‘nosso tempo’ (eu sou de 76) mesmo que mamãe não trabalhasse, como a minha, não tinha essa de atenção integral e família centrada na criança. Acho que a função principal dos meus pais era mostrar como ser adulto funciona, não virar criança comigo.
Algumas dessas discussões e preocupações me parecem ligadas a um cenário como o daqui dos EUA, onde nem as empregadas e babás nem a família extendida são lugar-comum, e os pais de grana curta têm mesmo que criar os filhos sozinhos e conviver com todo o cansaço e falta de assunto que isso gera.
Eu também acho que não quero pôr filhos no mundo louco, quero é que os meus amigos tenham filhos para eu brincar enquanto eles forem bem comportados…
Por hoje é só, mas cliquei em “arroz de festa”.
Sempre leio seu blog. Não sei se já fiz algum comentário, mas esse texto está excelente!!!! Sou mãe de uma menina de 11 meses e penso tudo isso que você escreveu de forma brilhante. Valeu mesmo!!! Beijo, Rachel
hehehe!
Vc anda lendo muita Cláudia.
Sexo depois dos filhos. É difícil (eles choram e acordam o tempo todo!), mas existe e é muito bom. Diria até que é melhor que antes.
E sexo com filho e grávida, como estou agora? Meu Deus, é o céu!
Detalhe: esse lance de periquita detonada é mito. Pari de parto natural, em casa, e depois da quarentena cá estou eu de novo buchudíssima!
raquel, eu não leio revista feminina, por princípio, então suponho que o assunto seja hit parade em tudo que é canto, não só na TV, internet e blogs 🙂
que bom que ainda existem mães-não-nóia, nossa, me dá uma certa esperança…
Oi, Zel. Conheci seu blog ainda esta semana (eu acho) e já estou acessando todos os dias. Adorei seu texto (talvez por ainda não ser mãe, diriam algumas mães que eu conheço). Concordo com absolutamente tudo o que foi explicitado, parabéns pelas idéias tão refrescantes.
Também não lembro se já fiz algum comentário por aqui, mas não resisti. Concordo plenamente, tenho filhas de 11, 13 e 14 anos, e os programas ainda são separados, elas são crianças sim. Também quando recebo amigos em casa, elas nem aparecem, se estiverem navegando na net, ou então, vão dormir. Nada de criança se metendo em conversa de adulto.
zel, desconfio que a cada dia te amo mais. isso é grave?
dê, espero que não, porque é super-recíproco 😀
Quer dizer que eu tenho esperança? Posso achar que sou (um pouco) normal?
Acho que nem se eu pudesse conseguiria ficar em casa “lambendo” dona Julia! Que vida vegetativa é essa? E tem gente que cisma em fazer a gente se sentir culpada!
olha, só… mesma coisa com meus pais… e em 1969! que foi qdo essa aqui nasceu! o povo hj tem muita informação e nenhuma ao mesmo tempo… os debates são tão vazios! e povo tá encaretando legal… imagine que outro dia ouvi de uma pessoa mais nova do que eu que toma banho com a filha, mas faz isso de roupa pq… sei lá pq… deve ser pq é louca, né?
enfim!
bjs pra vc
Assino embaixo. Minha mãe só foi trabalhar fora quando eu tinha uns 14 anos…mas sempre tivemos tempo para coisas em família, e eles tiveram tempo para as coisas deles… tanto que se dão bem até hoje.
E eu, que tenho uma gatinha de quase 4 anos, não posso nunca dizer que deixei de fazer algo por causa dela… na verdade eu ‘impus’ isso pra mim antes mesmo de ficar grávida. Tenho minha vida e minha filha terá a dela. Sempre levei ela junto nas festas pois não tinha com quem deixar. Por isso ela é uma menina que, inclusive, dorme em meio a conversa e rock’n roll no último. Porque acostumou desde cedo com isso. Mas ela tem horários e depois que ela pega no soninho a festa é toda minha 😉 Sem grandes problemas.
Fiz questão de ficar até os 6 meses dela em casa, já que optei por amamentar exclusivamente (sem água, chás, etc). Mas depois voltei ao trabalho ( o mesmo de antes do parto… não largaria meu emprego por causa da gestação) e ela foi pra um berçário. Sem grandes problemas também. Xi, se eu for falar tenho exemplo pra cada tópico do seu texto…
Como diz o Frejat… 100 gramas, sem dramas, porque a gente É assim 😉
Bisous
Acho que hoje todo mundo pensa demais, escreve demais, complica demais. Por isto somos todos hiperativos, distraídos, dispersos. Como relacionamento é um assunto que seduz, que todo mundo quer entender, surgem outros tantos que tentam explicar. Cada um tem uma fórmula. Assim nada fica simples.
Zel, me identifiquei demais com o post. Como você nasci em 72 e sou a mais velha, tenho mais dois irmãos também na sequência. Minha mãe sempre trabalhou e eu ficava com minhas avós. Nunca isso foi um drama lá em casa e, talvez por isso quando nasceu minha filha, que hoje tem 7 anos, eu não tenha parado para pensar nessas questões “mudernas”.
Beijos
Querida!
Concordo, concordo, concordo com você.Minha mãe sempre trabalhou, saía de casa as cinco e meia da manhã comigo embaixo do braço para deixar na casa da avó, sem drama, sem confusão, sem peso na consciência.Embora eu tenha sido única filha, não fui mimada, não dava piti, e obedecia direitinho, comia no horário de criança e me comportava como criança, não como um mini-adulto mandão.
Hoje meu filho tem 7 anos e na escola eu fico reparando em algumas mães e nos problemas em relação à criação de filhos. Criança de 7/8 anos indo em psicólogo pois os pais acham que a criança é insegura. Aí um dia na hora da saída, saiu um empurra empurra e o que o pai do garoto fez? Se meteu no meio da criançada para proteger o filho!Nem imagino minha mãe fazendo isso!!!E daí a criança vai pro psicólogo pois é insegura. Ah! Tá bom!!!Minha mãe sempre falou que “briga” de criança, criança resolve e sempre foi assim, pelo menos comigo e embora seja filha única, consegui desenvolver fortes laços de amizade por toda a vida e em cada fase da vida. Isso também sem drama, nem intervenção de psicólogos.
No quesito sexualidade, embora minha mãe fosse um pouco “travada” para tratar destes assuntos, eles foram tratados nas horas certas e de maneira correta também. Acho esquisito hoje em dia esta coisa liberal entre mães e filhas falando de sexo abertamente, mas no fundo fico com uma pontinha de inveja.
Também acho o drama que fazem sobre maternidade, culpas, sexualidade, muito chatas e acho também que isso faz com que se esqueça o fato de que as crianças precisam de formação moral, cultural, espiritual para que possam fazer do mundo um lugar melhor para todos nós vivermos.
Um grande beijo
Simone
lembra daquele artigo da infantilização dos adultos?
acho que é isso. Adultos tão infantilizados que precisam de um manual pra recuperar sua identidade depois que os filhos nascem…
Zel, eu não acredito muito nessa regra de que as mães de antigamente davam conta assim da função: não é a toa que gastamos tanto dinheiro com terapia. Pelo menos, eu gasto.
E daí que é tão difícil ser mãe “moderna”: quebrar com esse padrão de que criança não tem voz e personalidade própria, ao mesmo tempo impondo os limites da boa educação…
e os dramas só assolam quando aparecem no cotidiano, mesmo.
🙂
Beijo.
giu, falando em terapia, eu cito a minha ex-terapeta espetacular dra liliana (que tem filhos): não importa o quanto você seja boa mãe, seus filhos SEMPRE vão precisar de alguma terapia pra superar esse relacionamento tão complicado. não é porque nossas mães foram ruins que nós fazemos terapia, mas porque na época DELAS não se fazia terapia, senão elas gastariam os mesmos dinheiros que gastamos hoje nisso.
e, rosa: sim. creio que pra criar filhos e saber conviver com essa “nova vida” é preciso tornar-se adulto, e poucas pessoas hoje em dia estão a fim 🙂 não tinha pensado por esse ponto de vista, mas… é muito verdade!
Sou tua assinante e leio o feed sempre que posso. Desta vez, precisei vir aqui só pra falar: Dá-lhe, Zel! Grande texto. Falo isso como editora do Desabafo de Mãe e mulher sem filhos. A moçada perdeu total a noção de adultez. Essa história de flexibilizar os papéis parece que deu em meleca (pra não falar palavrão no blog alheio). Valeu a iluminação, minha linda.
Oi Zel,
Cheguei aqui por indicação da Lúcia num meme sobre mulheres na internet que valem ser citadas e visitadas. Concordo com ela. Muito bom! Vou voltar!
Gabriela
não há dúvidas que nasceu numa família bastante diferente. principalmente quando se trata de respeito á diversidade. sua visão é bastante válida pq realmente o papo sobre mães cresce cada vez mais e adoroooooooo issooooooo ( risos). não vejo a mulherada com tantos problemas sexuais ou profissionais por causa dos filhos. a meleca é que isso acaba soando mais forte até por uma dificuldade de expressão para falar sobre escolhas.
tbem tive uma mãe que trabalhou a vida inteira e continua até hoje na batalha, mas não sei se isso pra ela foi tão bem resolvido. talvez, por isso, corro atrás de um meio termo… se é que há os caminhos do meio?!
valeu te conhecer muito… tbem cai aqui pela dica da lúcia
Oi Zel. Seu texto é perfeito. É tanta informação nos perdemos, é tanto amor que nos perdemos, é tanta concessão que acabamos, também, por nos perder.
Eu lutei muito pra engravidar, foram 3 anos de muito sofrimento até que finalmente consegui engravidar. Minha filha mudou minha vida, quando cheguei da maternidade achei que tinha nascido pra ser mãe e era só o que eu queria fazer dali por diante, lamber a cria. Mas os dias passam e a gente vai se dando conta de que mesmo as mães precisam de vida própria, de tempo, de namorar, ter amigos, trabalhar, se relacionar com o mundo. E, hoje, tenho certeza absoluta que só posso ser uma boa mãe se estiver de bem comigo mesma, e pra isso eu preciso ser só eu mesma (bem repetitiva mesmo). E que eu vou errar e muito, mas com a consciência tranquila de que estou fazendo e dando pra minha filha o que me é possível, sem culpas e sem neuras. Mesmo que o coração doa um pouquinho quando ela chora e eu saio pra trabalhar e do alto dos seus 4 anos ela diga que a mãe do fulaninho fica em casa com ele vendo desenho.
beijoca
Ah, e o mesmo fulaninho fica apostando com ela que a mãe dele vem buscá-lo mais cedo na escola, e o pivete sempre ganha a aposta!
Zel, incrível como vc acerta! Eu tb não vejo esse drama todo não, olha que eu estou mais próxima da geração de sua mãe que da sua (tenho 47), tive 4 filhos, amamentei todos e nunca deixei de trabalhar.Era cada serviço cabeludo:índio, sem terra, etc. e tal. Minha mãe tem 67 e tb sempre trabalhou (trabalha até hoje), assim como a maioria das minhas tias.
Como foi dito em um post acima, acho que a gente pensa demais, intelectualiza demais tudo.Dá uma preguiça!
zel, me passa o contato da sua terapeuta?…
venho de vez em qdo aqui, e acho q tô precisando “perdoar” meus pais…
muito bacana seu post sobre as mães, e depois sobre sua relação com seus pais.
sou mãe de 3 (18, 13 e 3), e lido bem na boa com isso (eu acho, né?!). adoro ser mãe, mas existe uma distância enooorme com meus pais.
na verdade, nem acho q tô precisando perdoá-los… acho q tô querendo entender melhor essa dinâmica, pra poder engulir melhor a distância, pra poder seguir em frente…
deu pra entender??
bjs
Oi, Zel…que bom que voltou.
Espero que volte da folga com um monte de posts legais!!! (e que aproveite muuuuito a folga)
Gostei desse post, tbém fui criada de uma forma atípica, sem dramas…foi meu pai quem me criou. e isso foi ótimo, nada daquelas balelas de “que falat faz a figura feminina”…simplesmente foi assim, e não tenho problemas com isso.
Achei massa ver que tem mais gente desencanada por aí…muitas vezes as pessoas complicam tanto…tudo.
beijocas!