retomando de onde parei…

… como se fosse mesmo possível, imagina 🙂

tem mil coisas que quero comentar sobre idéias alheias, pois eu deixei de escrever mas não deixei de ler não. e as ideinhas fervilhavam aqui na minha cabeça e nada de conseguir colocar em letras.

vou começar por este post da paula sobre aprender a ler.

o assunto me fez lembrar que aprendi a ler com 22 anos, quando fui pra fflch estudar história. eu já tinha me formado em outro curso, vejam bem, e não sabia ler!

a paula indicou um post de um amigo sobre o assunto, que dá dicas sobre como ler de verdade. não concordo com todos os pontos, não, mas há alguns que considero também essenciais, portanto farei minha análise de prós e contras da lista do moço, que é muito boa. no entanto, vou primeiro contar a historinha de como aprendi a ler.

fiz uma disciplina do curso que se chamava metodologia da história ou coisa parecida, mas não importa; o que importa é que o curso era muito massa, funcionava assim: tínhamos 2 ou 3 trechos de livros pra ler por semana (1 aula por semana), sobre o mesmo assunto. sim, o mesmíssimo assunto. nossa lição de casa era pesquisar sobre o autor, sobre a obra, sobre a época em que cada livro foi escrito, ler os textos e identificar diferenças, semelhanças, enfim, correlacionar os textos de alguma forma e tirar dali alguma opinião.

colegas, cada semana era uma aventura. quanto mais eu praticava, mais entusiasmada ficava. na mesma medida crescia o meu desespero, lembrando do volume de livros que eu já tinha lido na vida sem saber ler. esse exercício mudou minha forma de me relacionar com textos e livros, enriqueceu muito a experiência toda e, de quebra, me tornou uma leitora mais curiosa e principalmente mais criteriosa. nunca mais li nada com preguiça ou desprezo e aprendi a raciocionar e pesquisar, tudo ao mesmo tempo.

como toda revelação, essa também teve uma contrapartida irritante: comecei a reparar na quantidade de pessoas que não sabem ler e regurgitam opiniões ou “fatos” de terceiros usualmente pouco qualificados pra produzir informação e/ou opinião. mas essa é outra história, voltemos à prática de ler.

dito isso, vamos à lista do alessandro:

1 – pesquise a vida do autor

considero também essencial, faz toda a diferença. principalmente para entender os inevitáveis vieses. sendo uma leitura somente pra diversão também vale: você aproveita melhor a leitura se souber detalhes da vida do autor, algumas coisas fazem mais sentido.

2 – pesquise a época em que o livro foi escrito

pelo amor de deus, isso é absolutamente básico. não é possível fazer uma leitura decente sem saber em que época o livro foi escrito! é importante conhecer um tiquinho de história também, lembre da sua época de ginásio 🙂

3 – saiba onde o autor vive e como

não acho essencial, mas é bom. novamente, ajuda a contextualizar as idéias do autor.

4 – leia uma sinopse

também não dou bola. eu pessoalmente gosto de ler, pra me preparar pro “espírito” do livro. tive uma experiência curiosa sobre isso: comecei a ler um livro “a seco” no que diz respeito ao enredo, comprei pelo autor. cheguei ao primeiro terço do livro um tanto perdida e fui pra sinopse. mil fichas caíram e eu voltei à página 1. era absolutamente imprescindível estar “preparada” para o que viria.

5 – o livro anterior e o livro posterior

aí eu acho que depende bastante, especialmente do propósito da leitura. para leituras profissionais ou acadêmicas, com propósito específico, concordo que é útil. para leituras menos formais, acho dispensável.

6 – com que outras obras o livro se relaciona

acho essa idéia interessante, mas quem é que faz esse relacionamento? como “validar” se o relacionamento faz sentido? acho arriscado, prefiro estabelecer os relacionamentos entre as obras por conta própria, até porque para categorizar livros é preciso escolher uma visão. por exemplo: triste fim de policarpo quaresma pode ser lido puramente como romance ou como forma de ver uma época. as duas formas são válidas e podem até se combinar na mesma leitura, mas correlacionar livros ou textos não é atividade simples.

7 – enquanto lê, escreva sobre o livro

extremamente útil, especialmente para leituras profissionais ou acadêmicas. sem escrever sobre o livro quase impossível concluir idéias a respeito, no final da leitura, e eventualmente voltar, reler trechos importantes, etc.

8 – anote no livro

essa aqui é o problema: tanto a paula quanto o alessandro concordam que é essencial anotar, consideram a dica mais importante. não partilho da opinião deles, por uma série de motivos e não é por desejo de preservar o livro.

nessa época de aprender a ler, recebi essa dica de anotar, e foi o que fiz. lembro até o livro: heresia. fiz diversas anotações que fizeram sentido na ocasião da leitura, mas confesso que por uma questão de forma de anotação, meus mapas mentais no caderno foram mais úteis para consolidar a informação e tirar conclusões (dica 7).

depois de alguns meses (vejam, eu disse meses e não anos) resolvi retomar o livro, pois tinha avançado no assunto e queria rever algumas coisas. foi um horror: o livro estava todo anotado e eu ficava o tempo todo esbarrando com minhas idéias de meses atrás, e não conseguia conceber NOVAS idéias e interpretações. eu fiquei influenciada por mim mesma, e incomodada com a quantidade de intervenção. e pra mim, é aí que a coisa pega: minha segunda leitura foi substanciamente diferente da primeira e eu preferia não ter minha primeira interpretação me assombrando ali, nas páginas. minhas anotações eram curiosa e até criativas, porém inúteis. a leitora de agora não é mais aquela dos meses atrás, as anotações não me serviram de nada, francamente, e ainda me atrapalharam.

costumo reler livros com freqüência, de tempos em tempos. e essa experiência se repete: é como se fosse a primeira vez. e é, pelo menos pra versão atual de mim mesma 🙂 prefiro então anotar minhas idéias e interpretações com referência a trechos dos livros e guardar, se de fato isso puder ser útil algum dia na vida. ou escrever sobre o texto em questão, registrando minha impressão.

nada me dá mais prazer que abrir a primeira página do livro e saber que existe todo um mundo a explorar, como a praia de manhãzinha quando ninguém ainda pisou na areia. ou melhor: tem algo que às vezes dá um prazer danado também — lembranças vívidas da leitura anterior, como um flash. um pedacinho de prazer inesperado, ah.

mas eu sou romântica, não liguem pra mim. sigam o conselho do moço e da paula, que são certamente leitores muito mais eficientes que eu 😀

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  1. zel, acho que tô contigo… será que isso faz de mim também um exemplar de leitora menos eficiente? 🙂

    lendo as dicas, me veio o Adorno à cabeça… curioso, sempre tendi a discordar dele quanto aos conselhos para apreciar a obra sem tanta preocupação com o entorno (época, crenças do autor, etc)… mas confesso que me peguei tendendo a concordar com ele quando o assunto é literatura…

    saber sobre livro anterior e posterior? ou pesquisar a vida do autor? ou ler obras relacionadas? sinceramente? para mim, essas dicas podem ou não fazer sentido dependendo do caminho que cada um traça, da nossa experiência pessoal, interesses e objetivos com a leitura. é como quando me perguntam “como começar a escutar música erudita?”… depende… comece de algum lugar – seja ele qual for; no próximo passo, explore caminhos alternativos para determinar o que te atraiu na primeira audição: o estilo, o compositor, a forma, a formação (instrumentos), o instrumentista, a interpretação? é um mundo de possibilidades… 🙂

    In culture we trust! 🙂

  2. ah, concordo e discordo com a lista. veja bem, ele mesmo diz que deveria seguir mais a própria lista! rs rs

    acho que ler é uma aventura. como você colocou, é como pisar em terreno novo e fresco.às vezes é bom ter um mapa. às vezes, é bom ir às cegas.

    mas, por exemplo: há muito tempo li fante, e não gostei muito. resolvei saber mais sobre os beats. bukowski, ginsberg, kerouac, burroughs, etc. passei a entender o contexto, os motivos, a personalidade, e a me divertir com todos eles, e achá-los excepcionais.

    sem o “mapa”, não teria aprendido como chegar lá.

    enfim… cada cado é um caso.

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