sobre a fidelidade

resolvi escrever esse texto depois de ler esse post aqui.

pra começar, me incomodo um pouco com a palavra fidelidade. parece aquelas qualidades que se você não tem, é um filho da puta. além de ser difícil de medir, comparar e até entender. prefiro evitar.

então vem, como contraponto à fidelidade, a traição. que é tão complicada quanto fidelidade de entender, explicar e praticar. já cansei de ler e ouvir coisas sobre traição e ninguém nunca se dá ao trabalho de explicar o que significa pra si mesmo traição. quando é que considero que alguém me traiu?

bem, pra mim trair é igual a mentir, é exatamente a mesma coisa. por exemplo: você fala mal pra mim de fulano e na frente do mesmo fulano você é super-fofo-melhor-amigo? eu me sinto imediatamente traída. qual é a sua? usar meu ouvido de penico falando mal da criatura e depois agir como se fossem amiguinhos? detesto, acho podre.

você me deve e não paga e nem dá satisfação ou me pede favor e me deixa em situação desagradável? também me sinto traída. é mais ou menos assim: há algum tipo de acordo entre nós e a outra parte não cumpre o acordo, isso pra mim é traição.

o complicado nessa história é que nem sempre esse acordo está claro pras duas partes. aliás, na maior parte das vezes não está nem um pouco claro e é aí que dá merda. posso entender e até perdoar esse tipo de traição, afinal, todos somos humanos e estamos sujeitos ao erro, à interpretação equivocada.

quando se trata de relacionamentos amorosos a coisa realmente se complica. seja porque o acordo não está claro, seja porque fingimos que não entendemos o acordo. ou, na pior das hipóteses, de fato alguém rompe o acordo estabelecido. isso pra mim é traição.

se o acordo é relacionamento 100% aberto e um conta tudo pro outro, deixar de contar se tornaria traição, a meu ver. se o acordo é não ter mais ninguém além dos dois, qualquer tipo de terceiro envolvido é traição. argh, mas eu odeio a palavra traição! acho que nunca disse ou pensei “fulano me traiu!”. é novela mexicana demais pra minha cabeça 🙂 prefiro pensar num rompimento de acordo.

nunca traí ninguém em nenhum relacionamento. e não foi por falta de vontade: o desejo, felizmente!, existe e vira e mexe aparece. até pra mostrar que estou viva e sou humana, afinal 🙂 o desejo pelo que não temos ou o que é diferente é natural, eu acho. da minha parte, lido bem com o desejo do diferente, seja da minha parte ou da parte do meu parceiro. isso não significa que não tenho ciúmes, pelo amor de deus, porque eu tenho sim e nem sempre é fácil lidar com ele.

mas há formas e formas de lidar com o desejo: pode-se alimentá-lo, realizá-lo ou deixá-lo passar. há os que desenvolveram em suas relações uma dinâmica de realização do desejo, as tais relações abertas. nada de passar vontade: tá a fim? vai lá e realiza. eu admiro quem consegue viver assim, francamente. já tentei e não dou conta, meu emocional não funciona assim, eu realmente não consigo lidar com essa situação. não digo dessa água não beberei, mas hoje tenho pra mim que essa é uma forma de relacionamento que não serve. desejo e emoção são muito misturados pra mim, não consigo separar. mas creio que exista sim quem separe, e morro de inveja deles 🙂

neste momento da vida, o combinado é que ninguém faz serviço pra fora 😀 os desejos aparecem, é claro, e falamos sobre eles, juntos. estamos combinados e felizes assim. vai durar pra sempre assim? sei lá, provavelmente não. mas acordos não são certos nem errados e muito menos eternos. nada nos impede de mudá-los.

uma coisa que me irrita muito atualmente é essa mania de achar que todo relacionamento tem que ser moderno. tem que ter orgia, todo mundo comendo todo mundo, todo mundo “ficando” com todo mundo, essa coisa toda. e se você não for assim, moderno, é atrasado ou está tapando o sol com a peneira.

meus bens, acordem: moderno é saber o que se quer, respeitar seus próprios limites e os limites alheios. entrar nessa onda de “vamos comer todo mundo” sem saber se isso é de fato o que você quer ou se é uma concessão é furada; trepar com outras pessoas sem estar a fim só pra provar que é moderno é furada; fingir que acha o máximo seu marido comer sua suposta amiga porque isso é moderno é burrice.

ser moderno, bem-resolvido, adulto é se conhecer e saber até onde ir, como ir e ir com segurança e felicidade. se pra ser feliz você precisa de monogamia, toda a força do mundo pra você! encontre outro ser que acredite em monogamia pra ser feliz e sejam monogamicamente felizes. se, por outro lado, você não será feliz com uma pessoa só, encontre alguém do seu mesmo naipe, abra o jogo e seja feliz. nos dois extremos haverá desafios e problemas, não se iluda. não é fácil fazer acordos e ser fiel a eles, independente do tipo de acordo.

o importante, no fundo, é ser fiel ao que você se propõe. o que não impede ninguém, obviamente, de mudar de idéia. só não se pode esquecer de envolver as outras partes interessadas quando resolver que o acordo mudou, porque isso sim é o que se chama por aí de traição e que eu chamo mesmo é de sacanagem.

0 comments to “sobre a fidelidade”
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  1. Fantástico seu texto! Realmente, é uma questão para a qual não existe resposta fácil, para a qual não existe uma única resposta… E você tocou no ponto mais importante: a necessidade de ser manter a sinceridade, sempre. Beijos.

  2. oi Zel,

    vi seu comentário no PdH e vim conhecer seu espaço.

    pensamos diferente em termos de fidelidade, pois claro, cada qual tem sua visão, mas prá mim amor não combina com contratos, por isto não gosto de casamentos (no sentido convencional). a vida em sociedade já é tão norteada por leis, códigos de conduta, acordos, que na minha visão o ato de relacionar-se amorosamente deve ser livre prá cada qual fazer suas escolhas … como viver é um risco, amar tb é. dificil tb é predeterminar: vou amar alguém monogâmico. huumm, prá mim a gente não escolhe de quem vai gostar, assim seria fácil né?

    sua colocação sobre desejo lá no seu comentário foi no ponto, todo mundo sente e vai de cada o destino que dará a ele. desde que não seja repressão (como ocorre com a maioria), considero saudável saber lidar com nossos desejos de forma madura, mas poucas são a pessoas que realmente o fazem.

    vc parece ser uma delas, tomara mesmo!

    qto ao conteúdo do artigo, quis ser simplista mesmo e enfocar a diferença básica entre motivos feminino e masculino: o sentimento. sei que este assunto tem muito mais a ser explorado, mas enfim naquele momento quis escrever daquela forma.

    abç e prazer em conhecê-la

    😉

  3. Zel, você disse quase tudo que eu gostaria de ter dito, mas a preguiça não deixou. Sei que meu post ficou com cara de “vale tudo”, mas não é bem assim.

    Também detesto a palavra traição (quase tanto quanto detesto a palavra fidelidade) e acho que cada um é cada um, cada relação é uma relação.

    Qualquer dia volto a escrever sobre o assunto.

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