e a vida, hein?

é engraçado, eu tenho tido menos vontade de falar da minha vida interna, digamos.

há alguns anos os meus dramas, dúvidas, dificuldades, alegrias e surtos faziam parte desse blog com freqüência. vocês repararam que isso sumiu? não é à toa – estou mais estável, mais tranqüila, tenho menos dramas, ponto.

às vezes tenho a impressão que as coisas estão paradas demais, dá um faniquito, sabe? mas aí lembro dos vários meses de análise e do longo processo de aquietar a mente e o coração, do aprendizado do silêncio, que sempre significou tédio e morte pra mim. e respiro fundo, muitas vezes, até o faniquito passar.

eu não sabia fazer silêncio, respirar, respeitar e amar os espaços vazios. eu queria preencher tudo: quaisquer espaços livres, os silêncios, os estômagos (principalmente o meu).

o estômago eu ainda não aprendi a preencher só na medida certa, não é à toa que estou duas. mas sei que é questão de tempo e de necessidade – quando chegar a hora eu me livro do recheio.

os espaços vazios e o silêncio, por outro lado, se transformaram agora em porto seguro. eu morria de medo do silêncio, nada me deixava mais incomodada que ficar quieta, é como se eu não existisse enquanto não verbalizasse. hoje eu sinto prazer em calar, fico quieta por muitas horas e adoro. eu penso mais, muito mais. e ouço também, o que é uma qualidade admirável que nunca tive. hoje eu enxergo, percebo e sinto mais as pessoas e o mundo ao meu redor.

aprendi a prezar meu espaço, minhas coisas, meus pensamentos e segredos. porque espaço não é só físico. conquistei meu próprio território invisível e dou valor a cada milímetro dele.

o único ponto negativo dessa mudança é que criei verdadeira ojeriza por pessoas que não respeitam meu espaço e o silêncio, pessoas que são parecidas com meu antigo-eu. não é à toa que várias pessoas que em algum momento recente da vida eu considerava como muitos legais hoje eu considero praticamente insuportáveis. pessoas que falam demais, que não sabem ouvir, que dão muito palpite, que não respeitam o espaço alheio.

e é uma pena, porque sei que estas pessoas têm seu lado bom, mas é preciso fazer escolhas. e isso foi um outro aprendizado difícil porém recompensante: escolher e lidar com as conseqüências das escolhas.

escolher e enfrentar o que vem depois é o que nos transforma em adultos de verdade. não fosse tão sexista, eu diria que é isso que nos transforma em homens, aqueles com H maiúsculo. não existe escolha que não implique abrir mão de alguma coisa. às vezes você abre mão de coisas que não interessam, e aí não dói (a gente até esquece que abriu mão); mas existem as escolhas cuja alternativa é também parte do nosso desejo, e aí é que a coisa fica difícil.

então, amigos e amigas, a vida está assim: nos últimos anos fiz grandes escolhas. perdi amigos, possibilidades (melhores, talvez, que as minhas opções). mas ganhei meu espaço, paz e principalmente clareza. tenho uma família cheia de problemas que eu amo, tenho um companheiro e amante pra toda a vida, um trabalho que me desafia e agrada, não tenho grandes dúvidas nem arrependimentos, não tenho ilusões.

estou feliz, de forma simples e sem fanfarra. sem acontecimentos pirotécnicos e nem motivos externos. e tenho um orgulho danado de ter chegado aqui.

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obrigada, beth.

por mais que você ache às vezes que não tem motivo pra escrever ou que não faz diferença, foram alguns posts seus que me fizeram escrever esse aqui. continue escrevendo, por favor 🙂

0 comments to “e a vida, hein?”
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  1. acho que não preciso dizer nada aqui. acho que você sabe tudo, acho que você lê todas as entrelinhas. espero que sim, na verdade. e que bom, de uma certa maneira, saber que fiz você pensar. logo você.

    beijo, querida. é meu momento de enfrentar os silêncios. 😉

  2. Eu já comentei uma vez que sinto muito “orgulho de você”, (como existe “vergonha alheia” acho que orgulho também pode ser alheio…)

    Sei o quanto é dificil essa busca pelo equilibrio. E parece que as coisas em volta conspiram contra, dificultando ainda mais o processo.É uma luta…

    Parabéns.

    Bjsss

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