recomendações heterodoxas

essa semana assisti um filme que me balançou e eu nem sei explicar direito o porquê: into the wild (na natureza selvagem). o filme é baseado no livro do krakauer, que por sua vez foi feito a partir da história real de christofer mccandless.

não sei se consigo resumir o filme direito, mas vou tentar: chris é um rapaz promissor do ponto de vista tradicional – de boa família, inteligente, freqüentou uma boa faculdade, etc. mas ele abandona tudo para virar andarilho. ele doa todo seu dinheiro, muda de nome e desaparece pelos estados unidos, rumo ao alasca. ele adota uma vida nômade e de contato profundo com a natureza, em busca de liberdade. acho que é isso que me balançou tanto no filme – tenho sentimentos confusos a respeito dessa opção, do desafio que ela representa. ele abandona todos os conceitos mais firmes que nos são passados de geração em geração – dinheiro, casa, bens materiais, segurança, relacionamentos estáveis.

e mais não conto, leia o livro ou veja o filme. não li o livro (vou ler), mas o filme é incrível. não só pela história mas pela fotografia e a música, lindíssima. vejam.

esse filme me lembrou de outro, um documentário que me impressionou bastante, a ponte (the bridge). é um apanhado de histórias reais sobre pessoas que decidem se suicidar na golden gate bridge. a escolha das pessoas e a colagem de depoimentos dos familiares e amigos é impressionante e muito sensível. não há nada de mau gosto, não tem exploração nenhuma da desgraça alheia. é um retrato simples de uma característica que parece ser absolutamente humana: optar por terminar a própria vida.

assistam, se puderem. e me contem o que acharam!

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  1. Beibe, o filme mexeu muitíssimo comigo também. Ver essas escolhas radicais nos obriga a repensar as nossas próprias, né? E acho que a pensar nas concessões que acabamos fazendo em nome de coisas que no fundo nem são tão importantes assim.

    Esse “A Ponte” não vi, mas agora deu vontade…

  2. Oi, Zel…valeu pelas dicas, vou procurar.

    Engraçado essas sincronias, não é?

    Estou em um período de transição na vida e li essa semana o “Comer, Rezar, Amar”, da Elisabeth Gilbert.Normalmente não confio em listas de best-sellers, muitos dos que li me guiando por essas listas são péssimos, mas leio mesmo assim, só pra conferir.

    Bom, esse livro que mencionei me balançou muito, pq tem tudo a ver com minha vida nesse momento, e fala de uma coisa que eu penso há tempos mas até hoje não fiz, que é me dar um ano sabático, para viajar e pensar na vida.

    Mas é complicado, pelas razões práticas, mas estou me programando seriamente agora para fazer isso.

    Daí eu chego aqui e vejo sua sugestão de outro livro que tbém fala sobre esse tipo de experiência (embora into the wild, pelo que vc fala, pareça ser uma experiência mais radical, que não é bem o que quero fazer)

    Adoro quando vou fuçando os blogs e pá…bem naquele dia, naquela hora, leio uma coisa assim, que tem tudo a ver com o que estou vivendo.

    Essas sincronias são uma das coisas maravilhosas da net.

    Muito obrigada pela dica, valeu mesmo.

    beijão!

  3. Olá Zel!!

    Acompanho seu blog há uns bons anos, mas nunca me senti à vontade pra deixar um comentário (muito embora tenha aprendido boas lições – e receitas! – com você)

    Este filme, Into the wild, pra mim, realmente é um dos melhores! Fotografia linda, roteiro perfeito e trilha sonora MARAVILHOSA! Não sabia em qual eu prestava mais atenção!

    Também não tive oportunidade de ler o livro, mas aguardo ansiosa seus comentários a respeito!

    Um beijo,

    Vanessa

  4. Eu assisti ao filme hoje… O que mais me pegou nem foi ele abdicar de tudo, mas a “clareza” dele no final. Ele preciso de dois anos pelo país afora para perceber qual o sentido de muita coisa. Lerei o livro também, mas o filme já me pegou de um jeito que ficarei dias e dias com ele na cabeça.

    Beijos.

  5. Zel, você fala em sentimentos conflitantes. Acho que os meus sentimentos são conflitantes em relação aos da maioria!

    Honestamente, não vejo grande mérito na escolha desse menino. O que o impulsionou é um sentimento bonito, certamente puro de intenções, mas fatalmente infantil na sua impulsividade.

    Em algum momento da vida todos nós pensamos em ir embora, ou em viver sem rótulos, ou em começar do zero, ou em construir uma sociedade menos cínica, ou em ser mais espiritual, ou em ser menos materialista, etc etc. Tomar efetivamente alguma atitude sobre qualquer desses ideais é admirável, mas na minha opinião há maneiras eficazes e maneiras equivocadas de se fazer isso.

    Esse menino era muito inteligente, estudava, tinha grana. Subtraia-se das suas características a imaturidade e a impulsividade, ele poderia ter sido uma pessoa influente de uma forma muito mais real – não somente sendo lembrado como personagem de uma lenda bonita com final triste. A menos de 1km de onde ele tenta cruzar o rio havia um bote operado por cabo com esse propósito. A poucas milhas do seu ônibus havia estações de socorro cheias de comida. Quando escolheu não levar mapa nem bússola (arrogância adolescente, na minha opinião), ele estava sabotando sua própria história. Mas até aí, problema dele. (Apesar de várias pessoas afirmarem que esse tipo de descuido/irresponsabilidade custa tempo e dinheiro a muita gente – socorro, resgate, atendimento médico, etc.)

    Nem tanto as decisões dele (que podem, afinal, inspirar alguém a fazer algo de bom por si e por outros), o que me incomoda é o endeusamento de um menino que, tendo todos os recursos para transformar suas frustrações e ideais em ações que fizessem alguma diferença (na sociedade, na família, no espírito, seja lá no que mais que o revoltava no mundo), escolheu um caminho francamente suicida. Admiráveis talvez fossem suas idéias – suas atitudes, nem tanto. Há pessoas tão ou mais especiais que ele em todo lugar. Pessoas que um dia tiveram a mesma epifania e decidiram mudar o que quer que as incomodava – no mundo, no bairro, dentro de si – sem acabar em morte.

    O filme é bom. A história é trágica. O menino era um bobo. (E eu aparentemente perdi o romantismo hehe. Sorry.)

  6. anna, acho que a questão não é de mérito, de quem sente/acha certo ou errado. a questão, pelo menos pra mim, é que as escolhas dele me fizeram rever as minhas, até porque as dele são tão diferentes.

    eu não acho ele nada bobo, não, mas isso é realmente muito pessoal. a forma como enxergamos as escolhas alheias passa também por enxergar as nossas próprias, passa por questionar se afinal estamos no caminho certo. eu me questiono muito e exatamente por isso vejo com olhos ávidos as escolhas diferentes, elas me ajudam como espelho (mesmo que distorcido).

    ah, e não achei a história trágica. ela é o que é – uma das possibilidades quando a gente faz certas escolhas é morrer. achei um fim bastante consistente com as escolhas e a história.

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