sobre as olimpíadas

eu não sou assim uma grande fã de campeonatos esportivos, o único que realmente gosto é a copa do mundo porque gosto de futebol. os demais, acompanho mais por curiosidade, até porque não sou do tipo que vibra com títulos do brasil-sil-sil.

nada demais: não tem revoltinha nem discursos bestas de que copa (ou olimpíada) é ópio do povo e blá blá blá. só não acho que tem motivo pra sentir orgulho, como brasileira, de uns gatos pingados que fazem das tripas coração pra conseguir praticar esporte de forma profissional. ou, por outro lado, por que eu haveria de me orgulhar dos esportistas milionários que moram no mediterrâneo ou em nova iorque? desejo tudo de bom pra eles, que façam ótimo proveito, mas não me causam nenhum orgulho.

minhas reflexões sobre a olimpíada têm pouco ou nada a ver com esporte, na verdade. mas lá vou eu contribuir com meus 2 centavos… 😉

não importa vencer ou perder… até você perder 😉

vi uma entrevista com a treinadora da equipe de ginástica artística, muito interessante: ela destacou o fato da equipe de ginástica, em 10 anos, ter passado de 23o lugar no ranking para 10o lugar (8o? algo assim). com ou sem medalha de ouro olímpica, a modalidade evoluiu muito, e isso é motivo suficiente pra comemorar. não é?

não, a gente quer é medalha-medalha-medalha. o fato de hoje a ginástica ser um esporte conhecido no brasil e com patrocínio é um detalhe. se não tiver metais preciosos e fogos de artifício, o investimento de longo prazo não vale nada, as perspectivas futuras são desconsideradas.

o moço que ganhou nossa primeira medalha de ouro na natação é um exemplo do nosso gosto pelo que brilha e o desprezo pelo que sustenta, o básico. ele ganhou a medalha porque é talentoso, porque fez sacrifícios pessoais e teve que sair do Brasil pra conseguir realizar seu sonho. isso é motivo pra comemorarmos como nação, pra sentirmos orgulho? não, né, muito pelo contrário. mérito exclusivamente dele e vergonha pra nós como nação, que não demos nem a ele nem a vários outros condições de serem campeões.

sem radicalismos, mas me incomoda ver reclamação “nacional” sobre perder medalhas de ginástica e ufanismos em relação à medalha de ouro da natação. as duas coisas combinadas me dão vontade de dar um chute na bunda da entidade “Brasil”.

os chineses e a china

e porque só se fala nisso esse é o assunto da vez aqui na minha cabeça – confesso que ando com bronca dos chineses. tudo que é canal da TV mostra como são as coisas lá do outro lado do mundo e alguns fatos são simplesmente apavorantes.

eu sei que temos nossos casos de show de horror aqui também, mas a coisa por lá é grave. um documentário sobre a indústria de roupas na china me deixou deprimida, sério. ver meninas adolescentes trabalhando 16 horas em regime escravo pra ganhar menos de 1 dólar por dia fez meu coração doer.

decidi – na medida do quase impossível – não comprar coisas feitas na china. (tente, pra ver o quanto é impossível). eu sei que é uma reação ingênua, podem chamar inclusive de boba, mas é o meu jeito de dizer não pra exploração. e sempre que aparecer uma oportunidade de boicotar a exploração, eu vou adotar.

(e se fosse levar a ferro e fogo, em pouco tempo estaria andando pelada, comendo comida da minha horta e sem nenhum eletrodoméstico em casa, eu sei. mas eu gosto de pensar que pequenas ações fazem alguma diferença, não adianta nenhum cínico vir dizer que sou uma gota d’água no oceano)

a história de maus-tratos aos animais na china me incomoda há muito tempo, e toda vez que procuro saber sobre o assunto (tenho esperança imorredoura que isso é coisa do passado, mas…) fico ainda mais chocada. vender animais mutilados (e ainda vivos) nas feiras livres, por exemplo, está além da minha compreensão. eu entendo comer os bichos, ainda não entrei na onda de não comer bichos, mas por que fazê-los sofrer antes de morrer? não entendo.

pra completar, li na cam sobre a chinesinha que canta muito bem porém não é modelo de beleza e que foi substituída na abertura dos jogos pela chinesinha bonita que não canta bem.

não sei se foi questão de comparação com meus outros incômodos a respeito do país, mas essa história não me surpreendeu nem chocou. porque, convenhamos, descartar quem é fora do padrão de beleza é prática mundial, certo? fosse aqui no brasil ou outro lugar qualquer, a comissão simplesmente continuaria procurando até achar a menina bonita e que canta bem, ou colocava a menina bonita com playback, aquela tosqueira que já conhecemos.

os chineses só são mais práticos: usaram a cara de uma e a voz da outra, e pronto. pá-pum.

imagino que a cam achou a história triste porque ela mesma é uma mulher bonita, deve ser um choque perceber que o mundo é assim, cruelzinho, conosco os esteticamente prejudicados ;D já eu, pertencente ao universo das mulheres de aparência comum (se houver boa vontade da sua parte), li a notícia e simplesmete pensei “mas é assim mesmo que são as coisas… por que a tristeza?”

quem é que estava falando agorinha sobre cinismo, hein? ops, deslizei, foi mal.

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  1. beibe, minha bronca com a China já vem de um tempo. Embora seja realmente difícil não comprar na-di-nha chinês, acho que eu tenho me saído bastante bem na empreitada do boicote (e de quebra descoberto marcas bacanas made in brazil que eu nem desconfiava que existissem). De esporte num entendo nada (então nem me atrevo a comentar Olimpíada), mas fico assustada quando vejo a China ser incensada como ‘grande potência’ e ‘milagre’ sabendo que os caras literalmente cagam pras questões ambientais, pros direitos humanos i otras cositas más.

    ê mundinho…

  2. Sempre que penso sobre pequenos gestos que, se fossem coletivos, poderiam “melhorar o mundo”, lembro de vc. =D

    Adotei o hábito de evitar ao máximo as sacolas plásticas e muitas pessoas riem (!) quando eu pego outra sacola na bolsa para acondicionar as mercadorias ou me olham como se eu fosse um ET quando explico o pq.

    Parece que a frase “vc é só uma gota d’água no oceano” se tornou a febre do momento! rs

    Mas com persistência podemos mostrar que esses gestos tem seu valor sim! Eu fiquei fascinada quando descobri as sacola oxi-biodegradáveis e tanto falei, tentei, mostrei, (em outras palavras: enchi o saco! 😛 ) que a empresa em que trabalho adotou essas sacolas para a cadeia de lojas! tô feliz, feliz! 🙂

    Beijo!!!!

  3. Eu acho muito triste esse papo no Brasil de associar o desempenho olímipico à “redenção da raça”. A coisa do Galvão Bueno do Brasil-sil-sil é algo muito deprimente. Os atletas que estão lá estão lá por esforço próprio e, ao final, não representam nada além desse esforço (o que já é muito). Minha prima acaba de conquistar a medalha de bronze em Pequim (Fernanda Oliveira – Vela) e isso coroa uma carreira de 18 anos de luta, apoiada unicamente pela família. Seu primeiro patrocínio (apesar de essa ser a terceira olimpíada que ela participa) surgiu apenas a três anos. Associar a isso o orgulho da nação é uma coisa muito sem sentido. Ela conseguiu porque persistiu, foi atrás, porque a família esteve sempre por trás. É mérito dessa gente e de nunguém mais.

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