Zel,
A descoberta do seu blog coincidiu com a época em que a internet banda-larga foi instalada em minha casa, no começo dos anos 2000. Correndo o risco de parecer super *geek*, me lembro de ter voltado do trabalho naquele dia, e com a tal ‘novidade’ a disposição, pedi uma pizza por telefone e me sentei à frente do computador por horas e horas, madrugada afora.
Tal qual um final de balada, quando os primeiros raios de sol do novo dia entraram pela janela, descobri o seu blog, depois de muito vadiar pela net. Me lembro de ter ficado deslumbrada com a desenvoltura dos seus posts, palavras cruas e emocionais, suas impressões sobre sexo. Alguns posts me fizerem ate corar de vergonha – ‘como é que nunca ouvi ninguem verbalizar essas coisas’, eu pensei.
Logo depois disso, me mudei para a Europa, mil mudanças aconteceram, eu nao tinha mais os bookmarks do computador que eu tinha quando te ‘conheci’, mas a URL www.zel.com.br era impossivel de esquecer. Continuei acompanhando seu crescimento, suas dores de amores, suas receitas e reflexões sobre voce mesma e os outros. Aprendi, discordei, ri e quase chorei.
Voce nem sabe o quanto me identifiquei – e ainda me identifico – contigo. Temos o fascínio pela culinária em comum, assim como o gosto pela poesia, tattoos, Adriana Calcanhotto, a paixao pelo trabalho na area de TI. Moramos sozinhas no passado e enfrentamos a solidao. Emagrecemos horrores e nos sentimos as mais gostosas da paróquia.
Em uma outra ‘coincidência’, tive um casamento destrutivo com uma pessoa que me fez ver o mundo inteiro de uma forma distorcida e fazer tudo numa sangria desatada tipo tudoaomesmotempoagora…o relacionamento acabou, e algumas das suas constatações na época me ajudaram a entender que o fim do casamento – e das relações com as pessoas que eram ‘parte do pacote’ – foi a melhor coisa que poderia ter acontecido.
E depois, muitas coisas boas vieram, o pote de ouro no fim do arco-íris. A subsequente terapia, ter feito as pazes comigo mesma e encontrado um companheiro para a vida toda…ate te escrevi na epoca, para agradecer a inspiração. Voce nao sabe o quanto meu coracao fica quentinho quando vejo que voce esta cheia planos e ideias, bem-amada e feliz.
Como nao estou morando no Brasil, vivo perdendo oportunidades como o perupatolinha para o qual voce convidou seu leitores…o Luluzinhacamp, os encontros na La Reina Madre. Ate tentei te encontrar pessoalmente quando estive em SP de passagem, mas infelizmente ainda nao rolou. Mas ao menos nos falamos por telefone, para uma matéria que eu escrevi (o link para a parte onde voce contribiu nao esta mais online, infelizmente!). E você acabou mencionando uma outra pessoa incrivel durante aquele papo, a Leticia Massula do Cozinha da Matilde. Você bem sabe do poder de aproximar pessoas, de criar comunidades.
Tomara que ainda possamos tomar aquele café um dia, Zel. A vontade nao é de encontrar a celebridade da web, mas uma pessoa formidável, que teve os ‘culhões’ de contar sua história de vida para quem quisesse ler, e assim entreter, ensinar, fazer refletir.
E olha toda essa interação em volta do aniversário do seu blog, Zel, que coisa linda. É como se todos nós estivéssemos segurando sua mão por dez anos e você, as nossas, mesmo sem saber.
Um grande beijo,
Angelica
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angelica, lembro bem da nossa entrevista, o papo sobre a letícia… adorei a pauta, aliás (até porque, como te contei, já cogitei ser cozinheira, mas desisti. muito trabalho! hahahhahaha)
bom, já vi que você é das que leram todas as barbaridades que eu já escrevi (e não foram poucas. releio os arquivos e fico embaraçada, confesso), então não vai dar pra esconder nada de você e nem fingir que sempre fui essa pessoa controlada no blog (aham) 🙂
quanto mais leio e releio sua história, mais acredito que somos parecidas, sim. é algo no tom, e até nas escolhas que você fez do que citar. o casamento destrutivo… putz. procuro nem lembrar, sabe. que época desgraçada. mas quer saber? alguém disse numa das histórias que o casamento me fez mal mas também me fez uma pessoa melhor, e é completamente verdade. não fosse aquele show de horror, eu não teria ido pra terapia, não teria aprendido a me amar, não teria me aproximado do fer… enfim. sou melhor depois dessa história, sim, e tenho certeza que você também é. dizem que o que não mata fortalece, não é?
ainda espero pela oportunidade de conhecer você, recebê-la na minha casa e contar essas nossas histórias com detalhes (todos os sórdidos, que são os melhores! :D), rir do quanto fomos idiotas e trocar mais receitas. me escreva de novo quando estiver no brasil, ok?
enquanto isso, prometo continuar escrevendo. esse momentos dos 10 anos foi o melhor presente que eu poderia ganhar na vida, nunca imaginei receber tantas histórias bonitas, gentis, curiosas, engraçadas, emocionantes. é incrível aprender como textos escritos tão despretensionamente (e às vezes até irresponsavelmente) mudaram vidas. especialmente a minha.
obrigada pela história, por compartilhar e principalmente por estar aí. beijo enorme!