a renata mandou estes dois posts do blog dela pra que eu lesse, e os assuntos me interessaram e muito!
eu mesma já fui e ainda sou instrutora de várias sessões de treinamento, além de ter dado aulas particulares no passado e aulas para pós-graduação recentemente. entendo perfeitamente os problemas que a renata enfrenta, e acho que existe uma raiz aí. prestando atenção, tudo gira em torno da percepção do indivíduo em relação à sua própria performance e aos resultados dos esforços colocados numa atividade qualquer.
extrapolando, as notas que tiramos na escola na infância/adolescência não são muito diferentes do dinheiro que ganhamos quando começamos a trabalhar (que se transforma em outras formas de recompensa) ou em das outras recompensas não-financeiras obtidas na vida (favores, gentilezas, presentes, carinho, amor, sexo… enfim).
todo mundo quer receber recompensas (nota, dinheiro, afeto, reconhecimento), de preferência com o mínimo esforço. faz parte da nossa natureza. inclusive quanto menor o esforço e maior a recompensa, mais eficientes e bem-sucedidos podemos nos considerar 🙂
nada contra minimizar esforços e maximizar recompensas. o problema é quando são criados na nossa cabecinha mecanismos que nos impedem de enxergar que existe sim uma correlação forte entre empenho (ou esforço) e recompensa. quando em algum momento passamos a acreditar que a recompensa está associada puramente à sorte ou a ações externas e independentes de nós mesmos, temos um problema.
de volta pros exemplos da renata: os alunos criam mecanismos (e creio que nem sempre conscientes) para atribuir sua performance abaixo do esperado à escola, aos professores ou mesmo à família. já ouvi sem querer uma conversa entre filho e seus pais, atribuindo seus maus resultados a limitações intelectuais insuperáveis (“sou limitado, NUNCA chegarei ao nível X”).
é claro que acredito que existem inúmeros fatores externos que influenciam nossa performance, nossos resultados. a questão é o quanto. frequentemente me vejo cercada de pessoas que nada mais fazem além de justificar sua incapacidade de realização usando fatores externos. a culpa (ou o fator de insucesso) é sempre de outro indivíduo ou “das circunstâncias”. é raríssimo encontrar alguém que diga que algo deu errado por causa de si mesmo. nem precisava dizer em voz alta, bastava saber.
os alunos são sabem que tiram notas baixas porque simplesmente não dedicam o tempo necessário para o estudo pois escolhem fazer outras coisas com seu tempo. raramente é o caso de se dedicar e não conseguir, até porque uma tentativa honesta mal-sucedida conduz naturalmente a um pedido de ajuda. a chave aí é realmente a honestidade: estou tentando, procurando ser mesmo melhor?
uso outro exemplo, que pra mim é especialmente irritante: os mal-humorados profissionais. quem não convive ou conhece alguém que reclama de absolutamente tudo boa parte do tempo? o chefe é chato, os colegas são idiotas, a família é inconveniente, ganha pouco e trabalha muito, não consegue pagar as contas, a casa é constantemente bagunçada, namorado/a pisa na bola e etc. e tal.
um injustiçado, perseguido pelos astros. tudo dá errado porque alguém ou algum fator exterior o prejudica. minha teoria? problema grave de auto-estima. em algum momento da vida, alguém o convenceu que ele não é e nem nunca será bom o suficiente. que não importa o quanto ele se esforce, nada vai ser ótimo, a recompensa não virá porque ele não merece. porque ele não tem o que é necessário pra ser completamente bem-sucedido. então… pra que tentar?
essas pessoas são de fato amaldiçoadas. foram amaldiçõadas há tempos por pais/mentores que destruíram sua capacidade de acreditar em si mesmas. não crêem mais que são capazes de mudar o mundo ao seu redor quando mudam a si mesmas, se reinventam e superam suas limitações. elas não enxergam que seu potencial existe, que podem fazer melhor, ser melhores e criar uma realidade melhor.
imagine um humano deitado numa lagoa de lama de 10cm de profundidade. enquanto ele não se levanta (até porque ele acha que não é capaz!), vai achar que está o tempo todo mergulhado e prestes a afogar. ele acha que já faz MUITO por não morrer… e às vezes passa a vida sem saber que bastava se levantar (ou pelo menos sentar, caramba!) pra não afogar.
por isso acho cada vez mais que como mentores, professores ou pais, a missão de cada um de nós é mostrar ao outro que ele está numa lagoa rasinha de lama e pode se levantar e andar, sim. todo mundo pode pelo menos sair da posição 100% horizontal, caramba. uns conseguem se reclinar, outros sentar, outros ficar de pé e outros saem pra sempre da lama.
e como indivíduos, nossa missão tem que ser, continuamente, parar de colocar a culpa na lama. temos de estar atentos aos nossos próprios recursos (ou à falta deles, se for o caso) e procurar sempre pensar “onde EU poderia ter feito melhor” ao invés de procurar justificativas externas para os nossos fracassos.
Oi Zel! Primeiro, obrigada por contribuir com sua visão sobre este assunto. Pela minha profissão, é algo com que me deparo muito mesmo (como, aliás, comentei no post).
Eu não havia pensado na nota como mais uma recompensa que buscamos na vida, como você coloca. Limitava o olhar para o ambiente acadêmico e acho que ver seu ponto de vista fez, sim, muita diferença na minha incompreensão de porque o aluno pensa dessa maneira. E acho que você deu uma outra pista que pode me ajudar bastante a trabalhar isso com os alunos: deixar mais e mais evidente a relação entre o empenho e a recompensa que ele deseja. De certa maneira, acho que talvez seja o caso de me retirar do processo um pouco, deixando de ser aquela que DÁ a nota e me transformando naquela que a ATESTA. A diferença parece estar apenas no discurso, mas acho que no relacionamento com o aluno pode mudar bastante coisa.
Enfim, MUITO OBRIGADA por sua contribuição. Me ajudou demais mesmo. Vou guardar seu post e relê-lo várias vezes ainda. E aproveito para pedir desculpas. Aquele dia você respondeu meu email tão gentilmente e eu tive a impressão de ter sido um pouco seca. Um beijo!
Oi Ivanise,
Gostei muito do seu texto e concordo com tudo que disse, ou melhor, escreveu.
Incrível como as vezes pessoas escrevem coisas que a gente não consegue escrever.
Bjs….e felicidades para você, família e novo pimpolho.