você não precisa fazer cinquina no “bingo da vida”

gostei muito dessa matéria sobre a oprah em que ela fala um pouco da sua relação com corpo/peso. vou traduzir alguns pedaços que achei mais interessantes e também colocar meu ponto de vista e vivência sobre o assunto.

peso/aparência física tem sido um assunto importante pra mim desde menina, pois eu era a “gordinha” da família. minha irmã sempre foi magrela, minha mãe sempre teve um corpo lindo (nunca foi magra, mas longe de ser considerada gorda tampouco), e eu… era gorducha. comecei a notar o quanto isso era um problema com 9 anos, mais ou menos.  nas brigas, ou no momento de provocação, era sempre “sua baleia”, “sua gorda”, etc. não sei dizer porque ser gordo deve ser motivo de vergonha, mas fato é que me envergonhava de sê-lo. e nem era GORDA, sabe? rechonchudinha, só. mas essa condição me colocava em desvantagem, e era sempre associada à preguiça, lerdeza, desleixo, “decrepitude” (sim, e vou chegar lá).

cresci e descobri que as coisas são assim no mundo, não era algo específico da minha família. ser gordo é sinônimo de ser feio, lerdo, preguiçoso, desleixado, acabado. “ih, olha lá: casou e largou mão!”; “quanto mais velho, mais gordo”; e eu poderia passar o dia aqui dando exemplos da associação de gordura com coisas ruins cuja correlação com o peso não é necessariamente verdadeira. há magros preguiçosos e desleixados; há gordos dispostos e saudáveis. existem inclusive estudos mostrando que atividade física está mais relacionada à saúde que o peso. ou seja — se você for gorducho e ativo, está melhor que um magro sedentário.

não quero aqui defender os gordos, vejam bem, eu mesma quero deixar de ser tão gorda. a questão é que em qualquer julgamento ficam em segundo plano a condição de saúde, como o sujeito se sente ou se vê no espelho: se for gordo, tá errado e pronto. gordos são nojentos, feios, piores. e se você é gordo, é porque tem preguiça ou é excessivamente auto-indulgente. toda uma gama de julgamentos é feita cada vez que se olha pra alguém gordo, sem considerar nenhum dos inúmeros outros aspectos que o compõem. não importa se ele tem exames médicos ótimos, vida sexual ativa, faz suas caminhadinhas, se alimenta com comidas legais, tem uma profissão, é feliz. você não pode e não deve ser feliz e saudável se for gordo, não combina. alguma coisa está errada com você, se é gordo.

vamos lá, da perspectiva de uma gorda crônica: não existe milagre e nem maldição em relação ao acúmulo de gordura. se você consome mais do que gasta, a gordura acumula, é assim que nosso corpo foi programado pra funcionar. ou seja: acumular gordura é sim o resultado de comer de mais e gastar de menos. gordura é reserva, é gestão de risco para tempos de vacas magras, é proteção contra o frio (e, se quiser extrapolar para o âmbito emocional, proteção de forma geral). gordura é uma parte do seu corpo físico, como os músculos, nervos, ossos, sangue. alguns corpos têm mais reserva, outros têm menos. só.

e é só isso — é só um corpo, uma parte de um corpo físico! que, por outro lado, é apenas parte do que torna você o que é. não “somos” nossas medidas, assim como não “somos” nosso endereço e nem nossa profissão. medir quem você é pelo seu peso (e pautar sua vida por isso) é tão estúpido quanto medir quem você é pelo seu QI ou sua profissão.

a oprah diz assim: “eu achava naquela ocasião que ser magra fazia de mim uma pessoa melhor”. ela conta que recusou ir a festas porque não estava magra o suficiente. tornou-se obcecada com a própria aparência e com o peso (e passou a vida oscilando entre estar magra e gorda, vivendo em função disso). por que devemos deixar a quantidade de gordura do nosso corpo, peso ou formato da bunda interferir tanto na nossa vida, na convivência com outros seres humanos, na relação com o mundo?

“você não é o seu corpo”, ela diz (e eu concordo demais!). “[o ego] é doentio. é ardiloso, esperto, enganador. é um impostor, impondo-se ao seu ‘eu’ real. você não é seu status. você não é sua posição social. você não é seu carro, não importa quão chique ele seja. você não é sua casa.”

é difícil escapar dessa armadilha de acreditar que você “é” basicamente a sua aparência. afinal, somos bombardeados dia e noite com críticas subliminares, nos dizendo como devemos parecer e ser. magros, bonitos, ricos, calmos, chiques, brancos, sorridentes, felizes, bem-sucedidos. e dessa receita toda aí, convenhamos, ser magro é mais fácil que ser bem-sucedido ou feliz, é uma meta ao alcance de basicamente todo mundo. não é à toa que tantos de nós lutam com unhas e dentes pra completar pelo menos essa pedrinha do “bingo da vida”. você é magro, branco, tem curso superior? uau, fez um terno!

que se danem as especificidades de cada ser humano, seu momento, sua genética, seu apetite, sua preguiça, oras. por que todos precisam ser igualmente magros, saudáveis, de pele linda e cabelos esvoaçantes? só ganhando no “bingo da vida” é que o indivíduo é feliz? a se pautar pelas inúmeras matérias sobre saúde e beleza, sim. cremes, dietas milagrosas, tratamentos, pílulas, séries de exercício. tudo pra que você se enquadre no ideal do sujeito saudável-e-feliz.

com um senão: o sujeito geralmente não é feliz. porque, graças ao seu ego dominante e uma distorção da autoimagem (nunca adequada e equivalente ao ideal), sempre falta alguma coisa, a cartela nunca está completa. emagrece, e fica flácido; faz exercício, mas o tempo é inadequado; está caminhando, mas devia estar fazendo spinning; sobra aquela gordurinha na barriga, que tal uma lipo?; a perna é grossa demais; a perna é fina demais; tem cabelo branco!

o pior dos pecados? envelhecer.

uma amiga (que ela me perdoe o exemplo, não é uma crítica pessoal, mas uma questão que eu acho muito pertinente do ponto de vista feminista) perdeu montes de peso, ela era uma mulher que eu achava normal (nunca, jamais categorizaria como gorda) e que se tornou magra. está muito bonita, e (acho) feliz com sua aparência atual. dia desses ela resgatou de seu guarda-roupa uma peça que comprou e usou aos quinze anos (ela hoje tem perto de 30, acho), e estava triunfante porque voltou a ter “corpinho de quinze anos”.

isso não é exclusividade dela: o sonho de consumo da mulher moderna é ter corpo (rosto, pele) de quinze anos, já notaram? ser uma eterna menina-moça, com corpinho quase infantil, só um anúncio de seios e curvas, pele e cabelos ainda de bebê (vide modelos). é o inverso da maturidade, das curvas da feminilidade madura, da mulher feita. queremos ser eternamente adolescentes. segundo algumas reflexões sobre o assunto, estamos nos tornando uma sociedade disfarçadamente pedófila. mulheres magras como meninas-moças, andróginas, peladas (tem homem por aí declarando que não faz sexo com mulheres que não se depilam!), pré-púberes. porque não há pior maldição e castigo que a passagem do tempo, os sinais de que nos tornamos finalmente adultas — pelos, peitos, curvas, rugas, os famigerados cabelos brancos.

pergunto: o que tem de errado em não ter mais quinze anos, ter peitos, curvas, rugas, cabelos brancos? por que perseguir eternamente esse ideal de aparência, e viver em função dele?

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e que moral tenho eu, que estou lutando contra o peso, pra tocar nesse assunto? afinal não estou eu também cedendo ao padrão? estou convencida que não.

sou uma mulher de 41 anos, que nunca foi magra. estive muito mais gorda, e ainda assim era saudável (sem contar o sedentarismo, que é independente do peso). mas estava impossível comprar roupas, e subir um lance de escadas. eu carregava 87kg em 1.52m. independente de IMC e qualquer outra bobagem métrica dessas, é peso demais para um corpo tão pequeno carregar.

estou aqui na luta pra chegar a um peso que meu corpo pequeno possa carregar sem tanto esforço (e que me permita comprar roupas sem tanto drama). para os médicos, eu devia pesar menos de 50kg (a proporção de altura peso de modelos é algo como 50kg em 1.75m, pra vocês terem ideia). é ridículo — eu nunca pesei isso nem quando tinha 15 anos 🙂 minha meta é algo entre 60 e 65kg, o que ainda me mantém na categoria de gorda diante dos padrões estéticos.

meu ego acha que eu devia pesar 50kg, no entanto. porque seria um prazer inenarrável ganhar essa bolinha do “bingo”. vestir uma calça 38, quiçá tirar (e compartilhar, claro) fotos mostrando pro mundo que entrei na calça que não me servia desde os 18 anos. quem sabe até finalmente me sentir parte do seleto clube das pessoas-que-estão-no-padrão.

mas uma das minhas metas na vida (e mais importante que a meta de peso) também é domar meu ego. porque ele não sou eu; meu corpo não sou eu. sou bem mais que meu peso, altura e medidas. sou mais que meu colesterol, ou o número de minutos de caminhada que eu faço X vezes por semana. também sou o livro que eu leio, a história que conto, ou aquela ligação no meio da semana pra minha mãe pra pedir receita. sou o papo de trabalho com minha irmã, o filme com meu marido-e-companheiro, o passeio com meu filho, a barra da calça que conserto. o texto que escrevo, a música que cantarolo no trânsito. sou muito também a falta de atenção aos detalhes, os erros todos, os esquecimentos e as mesquinhezas.

meu peso é só, e tão-somente, um detalhe, uma parte de mim (e definitivamente não a mais importante). é aquela pontinha do iceberg, que por acaso todo mundo vê. e aliás é por isso que não falo muito da dieta, e nem do processo. é pouco, é quase nada, perto de tantas outras coisas que me interessam.

umas das coisas mais legais de chegar aos 41 (ou aos 38, ou aos 55…) é observar a distância daqueles 15 anos (ou 16, ou 18). existe uma ponte entre a juventude e a idade adulta, que não tem comprimento exato. ela aliás pode nunca aparecer, e você ficar do lado de lá pra sempre. há pessoas que nunca deixam pra trás aquela necessidade fisiológica de agradar ao grupo, de fazer parte, de pertencer, de se provar, de obter validação. é saudável, é parte do processo de aprendizado sobre relacionamentos, mas precisa passar um dia! ou você fica escravo da aprovação do outro, o que pode ser bem inconveniente.

cada um sabe de si, é claro. acredito que para algumas pessoas sua aparência É tudo, e é mesmo a parte mais importante do seu todo. mas que difícil deve ser para estas pessoas a simples passagem do tempo, não? uma luta inglória contra a realidade do envelhecimento, da transitoriedade da aparência e, em última instância, da morte.

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concluo que não, não tenho como meta ter corpinho de adolescente. sou bem feliz com minha idade, com meu corpo atual. pragmaticamente, quero poder comprar calças com facilidade, subir escadas sem carregar peso extra, amarrar os sapatos sem a barriga impedindo o movimento.

meu ego quer fazer ensaio sensual na playboy como a “tiazona enxuta” da vez. bolinha dourada no “bingo da vida”.

felizmente meu ego é só uma parte de mim, e não cedo à sua falta de noção. não preciso expor ou exibir meu corpo como troféu, pra provar que EU CONSIGO ser magra, ou que finalmente estou “dentro do padrão”. sou muito maior que ele, e quem manda aqui sou eu, a combinação de corpo e mente, ação e pensamento.

tudo isso pra dizer que tomei uma decisão importante na vida: já fiz como a oprah e deixei de ser feliz e viver porque “sou gorda”, mas jamais deixarei novamente o ego interferir na minha felicidade.

eu não sou o meu corpo. ele é que é meu 🙂

e neste caso, a ordem dos fatores altera demais o produto, acreditem.

15 comments to “você não precisa fazer cinquina no “bingo da vida””
15 comments to “você não precisa fazer cinquina no “bingo da vida””
  1. Adorei seu texto, super lúcido e real. Cada dia mais me assusto com a auto cobrança das mulheres, sobre si mesma e sobre as outras, e cada dia mais quero me convencer que não preciso de nada disso, não preciso seguir padrões ou ceder ao ego. Mas ao mesmo tempo me questiono se isso não é uma auto defesa, já que a idade avança, a “decadência” física é inevitável e é mais fácil encarar com alguma naturalidade do que lutar contra ela.

    • Greice — acho que moderação é tudo, sabe? Cuidar do corpo é importante, afinal ele é nossa “casa” nessa vida. Mas transformar isso numa obsessão é problema, eu acho. Cada um precisa achar o equilíbrio que leva a uma vida gostosa e legal. Independente do que dizem/acham que você deve ser ou parecer.

      É nisso que acredito 🙂 Beijo.

      • É isso. E no meu caso nem é tanto o peso o problema, estou dentro do padrão “saudável” mas longe de ter um corpo bonito pelo padrão “ideal”. Mas pro que eu preciso – tentar quem sabe a longevidade, ter saúde e disposição pra criar meus filhos e aproveitar a vida com meu marido – ele está em ótimo estado. Rs. Mais que isso é o ego mesmo. Mas tem dias que é difícil centrar nisso com tanto bombardeio do corpo ideal, barriga negativa, tratamentos pra celulite etc, e não só na mídia mas em qualquer espécie de convívio social.

  2. Ah, Zel… vc é muito incrível! 🙂

    Eu tinha visto esse vídeo da Oprah (adoro a Oprah, me julguem! hahaha!) e esse texto é exatamente o que eu queria escrever, mas me falta seu talento. Obrigada.

    Eu também nunca fui magra, nem pequena, quando nasci, já ganhei o “badge” de maior bebê do berçário, hahaha! Vc acerta em cheio quando diz que gordura é proteção também no âmbito emocional (aliás, vc acerta em cheio o texto inteiro, hahaha).
    Vou te contar algo que eu nunca comentei muito pra ninguém, nem mesmo em terapia; eu fui molestada em duas ocasiões quando criança. Da primeira vez, por volta dos 5 anos, pelo parente de uma vizinha que eu gostava muito de frequentar a casa, e da segunda, por volta dos 9, pelo pai da minha melhor amiga de infância. Sempre fui mais “cheinha” que as outras meninas, mas comecei a engordar mesmo quando começou a adolescência. Hoje eu acho que foi porque, na verdade, eu morria de medo dos meninos. Morria de medo que eles me olhassem, me desejassem, e quando isso acontecia, eu realmente não sabia o que fazer. Lembro que, de tanto me dizerem pra emagrecer, entrei nos Vigilantes do Peso, e quando os quilos começaram a sumir, ouvi durante um treino de futebol, um menino da escola comentando com outro que eu estava “ficando uma gostosa”. Eu era a goleira do time, e, de repente, travei, não sabia o que fazer, devo ter tomado uns 5 gols, hahaha! Nessa época, eu já sabia lidar com as piadas, com as “brincadeiras”, as musiquinhas, com o escárnio por ser gorda, mas não sabia lidar com a atenção de ser atraente. Nem preciso dizer que pouco tempo depois, abandonei o programa e engordei tudo denovo e muito mais. Nessa época eu já vomitava algumas vezes, como punição, porque eu tinha vergonha de ser gorda, queria deixar de ser gorda, mas não sabia ser outra coisa. Quando eu tinha mais ou menos 26 anos o transtorno alimentar tomou conta e eu vivia em um ciclo de jejuar – comer compulsivamente – vomitar. O menor número que a balança me mostrou foi nesta época, 78kg. Na minha cabeça, só seriam aceitáveis na balança, números menores do que 60kg. Quando num exame de bioimpedância, eu descobri que, eu tinha quase 69kg só de massa magra, minha cabeça explodiu, hahaha! Ouvi da pessoa que estava me examinando que, por causa do meu biotipo ‘mesomorfo’, pra pesar 60kg só amputando uma perna! Hahaha! Fiquei chocadíssima, e refiz o exame em outro lugar porque achei que aquele estava errado, hahaha!
    Me tratei do transtorno alimentar, mas, ainda hoje, não consigo dizer pra vc que tenho uma relação saudável com a comida. E, apesar de ter (re)começado um programa de exercícios e de alimentação melhor e mais saudável recentemente, meu objetivo não é perder toda a gordura que puder e ficar bonitinha no vestido de noiva (YAY! \o/). Eu quero é me livrar desse medo que me faz querer usar a gordura como escudo pra que ninguém me machuque, afinal, ser gorda também dói. Esse medo que me faz duvidar de mim mesma, que paraliza, me impede de crescer, de confiar, de me abrir, de me desenvolver, sabe? É desenvolver uma relação tão saudável com a comida, que consigo ter o mesmo prazer comendo salada de rúcula ou batata frita. Aos poucos, a voz que manda o ego se calar está ficando mais forte. E, quanto mais forte esssa voz (a minha voz!) ficar, melhor eu vou viver. Acho que ter essa percepção, já é um primeiro passo, né? 🙂

    Obrigada por escrever o que eu sinto melhor que eu, hahaha! E desculpa qualquer agressão ao português, já que eu me emocionei muito um pouco enquanto escrevia minha biografia, hahaha!

    Um beijo enorme pra vc, Zel. 🙂

    • Ju, eu chorei te lendo. Me emocionei muito! Obrigada por compartilhar, que história linda. E você, tão linda, nossa, como as pessoas estragam nossa autoimagem, nos machucam. Que bom que você se apropriou da sua história e tá fazendo o que quer, como quer, porque quer. Você é linda, com o peso que estiver.

      Nem sei como te agradecer por contar sua história. Obrigada <3

      E parabéns pelo casamento! \o/

  3. Sabe o que eu tenho achado? Que envelhecer hoje em dia (assim sem eufemismo nem plástica nem nada) é a coisa mais subversiva – e por isso, no meu caso, divertida – do mundo. 😉

    Lindo-lindo-lindo texto.

  4. Querida,

    já li seu texto duas vezes e estou muito impactada por ele até agora, como te falei.
    Nessa segunda leitura, porém, outra coisa me veio à mente: por que buscamos nos identificar com nossos corpos, profissões, formação, posição social ou riqueza? Onde é que está o buraco na nossa percepção de nós mesmas que faz com que a gente se sinta tão “nada” que buscamos desesperadamente essa identificação com o que é externo?
    Entendo o que você e a Oprah dizem sobre ser importante dissociar o que somos daquilo que temos ou conquistamos. Mas me pergunto o início desse processo. O que aconteceu que nos levou fazer essa associação pela primeira vez? Sei que há um aspecto cultural nisso tudo – os conteúdos berrando isso estão todos aí – mas me parece haver algum furo na construção que fazemos da nossa própria identidade.
    Não tenho resposta alguma, mas isso – também – me deixou pensativa.

    Beijos!

    • rê, você leu “a autoestima do seu filho”? acho que vale a leitura. porque creio que um pouco desse problema de se identificar com rótulos e categorias, e “tornar-se” essas coisas começa na infância, quando recebemos os rótulos, e nos enquadramos neles. se puder ler, leia e vamos conversar sobre o livro. acho que escrevi sobre isso um pouco no fabricando, vou procurar e te mando. beijo 🙂

  5. Nossa Zel, estava comentando exatamente esse assunto ontem com o meu marido. Tenho 31 anos, e durante uma boa parte da minha vida lutei com o peso.
    Engordei um tanto durante a faculdade, fiz reeducação alimentar (o que foi excelente não só pra emagrecer, mas no quesito saúde, porque não dá pra viver comendo bolacha recheada e doritos o resto da vida hehehe), cheguei a pesar 59 quilos com 1,70, mas é muito difícil manter esse peso. Há uns 2 anos estou oscilando entre 65 e 69 quilos, mas meu ego, influenciado grandemente pela mídia e pelo padrão de beleza que nos é imposto diariamente, fica querendo voltar aos 60 quilos, entrar na calça 40 novamente.
    Acontece que eu, a Suellen, a parte que controla o corpo, gosta de comer um bolinho de fubá com café numa tarde chuvosa, de fazer um risoto gostoso num dia frio, tomar um vinho.
    Já desisti de ter a bunda dura e sem celulite há muito tempo, mas ainda estou no processo pra me aceitar no manequim 44. É complicado, mas eu chego lá. E seu texto com certeza foi mais uma ajudinha nesse ponto. Obrigada!

    • Suellen, 70kg em 1.70m já me pareceria bem razoável 🙂 Você é uma mulher alta, vestir 44 é perfeitamente aceitável. A pressão por ser magra (independente de como você parece ou se sente) é real, e não achar roupas que a gente gosta na loja mexe demais com a autoestima 🙁 Mas é isso — você vai querer viver a viva toda de dieta? Porque pra quem não é naturalmente magra, é isso que acontece. Se você não é do tipo “magra de ruim” e gosta de comer, é complicado se manter magra. Ficar magra é fácil — basta cortar tudo. Mas e aí, nunca vai voltar pra vida normal? Essa história de “período de manutenção” é balela. A “manutenção” pra ser magra é dieta a vida toda. Vide artistas, modelos, etc. Elas VIVEM com mil restrições.

      Vale a pena? Depende, né. Se ser magra é mais importante que tomar o café com bolo de fubá com a família, dou todo apoio. Cada um é que sabe o que o faz feliz afinal, né?

      Beijão!

      • É exatamente nessa conclusão que estou chegando Zel. Estou feliz com meu corpo, saudável, pratico exercícios, até meia maratona já corri. Mas o maldito programinha de computador da nutricionista gosta de indicar os 60 quilos como peso ideal… É possível? Sim, perfeitamente, mas a um preço que eu realmente não estou disposta mais a pagar. Viver contando calorias é um saco, principalmente quando você percebe que passou metade da vida fazendo isso. Não quero passar o resto assim.
        Manter uma alimentação saudável, tudo bem, mas essas neuras todas não valem à pena só por causa do peso ideal.
        Beijo!

  6. Oi Zel!
    Achei o seu texto incrível,problemas de excesso de peso nunca tive pois meço 1.60 e tenho 57 kg mas me identifico e muito quando voce toca no assunto envelhecimento. Porque eu tenho 45 anos e a partir de agora vejo o tempo realmente sendo implacável ,estes dias comentava ao meu marido por ex. como o meu joelho estava começando a apresentar “pregas”(perdendo a firmeza de antes) ou as mãos,em cima,apresentando as típicas manchinhas marrons aqui e ali,ainda de forma suave e discreta mas minha mãe e tias são super manchadas assim que já vislumbro o que está vindo aí.Te confesso que isto mexe com a gente até porque sou bem vaidosa.Porém, de minha parte,estou de boa e não to encanando com isto não mas sim encarando como um processo natural que chega para todas nós.Tenho alguns cuidados com a pele do rosto (tipo protetor solar,cremes noturnos,etc) mas estes jamais bloqueiam a passagem do tempo e no máximo hidratam e cuidam mais da pele. Mas sem neuras porque também não tenho saco para isto.Acho que a grande sacada é mesmo a aceitação(como alguém já disse em algum lugar, o contrário de envelhecer é morrer cedo..) porque o tempo passa,a vida voa e ficamos velhos e velhas e se não aceitarmos como o curso natural da existência a vida deve virar um inferno.
    O padrão deveria ser a falta de padrão pois somos únicos.
    Oxalá tenhamos saúde e energia para ver os filhos crescerem e que possamos disfrutar a vida com qualidade, é tudo que mais quero.Um beijo e obrigada pelas palavras certeiras!

    • interessante, mari, que sempre tem alguma coisa: se não é o peso, é a pele, o cabelo, etc. sempre nos achando inadequadas, sempre querendo ser/estar diferentes 🙂 concordo contigo — temos que nos aceitar. em todas as idades, estilos. procurando melhorar o que não tá legal ou nos deixa chateadas, claro. mas gostei muito da conversa com a suellen aqui neste post: será que nos sentimos insatisfeitas por nós mesmas ou por pressão externa? achando esse equilíbrio, a vida fica mais fácil, mais feliz. beijão 🙂

  7. Pingback: Do que não sou – lenta caminhada

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