tem gente que me pede conselhos de como ser mais tranquila (não sou), mais feliz (sou a maior parte do tempo), ou diz que “quer ser como eu”. só digo o seguinte: cuidado com o que desejam 😀 só fui pra terapia aos 30 anos, antes disso sofri muito batendo cabeça e fazendo mil coisas das quais me arrependo (inclusive aqui no blog. por isso mesmo apaguei os arquivos). 10 anos depois de ter começado a terapia, e muitos anos sem terapia depois da alta, ainda me pego cometendo erros repetidos, e continuo batalhando pra ser melhor.
observando algumas interações minhas nas últimas semanas, percebi que tem uma lição importante, que aprendi muito bem aprendida nestes muitos anos de blog e de vida, e que vale compartilhar: livre-se dos puxa-sacos e baba-ovo (ver NOTA).
se você ainda não tiver sacado o que tem por trás do puxasaquismo e estiver em negação, vai continuar alimentando esse tipo enquanto seu ego, iludido, “se acha”. você pode também (ainda em negação) jurar que os babões são seus melhores amigos, que são legais, que estão “colocando você pra cima”. não estão. eles estão impedindo você de enxergar a realidade e melhorar sua vida e você mesmo, e a culpa é só sua.
convido você a olhar as coisas de outro ângulo, colocando seu ego de lado (essa é a parte difícil, eu sei), pra observar algumas coisas interessantes:
– seus amigos de verdade, aqueles que se importam mesmo com você, NUNCA estão nessa categoria de puxa-saco. eles elogiam na hora que você merece, mas são eles também que dizem as verdades inconvenientes e incômodas, e estão ao seu lado na hora que você mais precisa;
– parte dos puxa-saco são simplesmente carentes profissionais, que fazem elogios buscando elogios pra si mesmos. não agregam nada (além de alimentar seu ego faminto), nunca estão disponíveis quando você precisa daquela ajuda pra varrer o quintal ou pintar a casa, e quando você começa a ignorá-los, não raro passam do amor ao ódio em 2seg;
– a outra parte de pobres coitados de baixa auto estima que também não são seus amigos, só flutuam ao seu redor e se espelham em você e te acham o máximo dos máximos porque afinal todo o mundo é melhor que eles, coitados, eles queriam ser todo mundo menos eles mesmos.
realizar essa observação foi um processo muito doloroso pra mim. minha terapeuta um dia fez a pergunta que causou uma avalanche: “por que você acha que essa pessoa é sua amiga? me dê alguns exemplos da amizade de vocês”. e percebi que aquele milhão de amigos que eu (achava que) tinha, que viviam ao meu redor dizendo que eu era o máximo não eram meus amigos coisa nenhuma. vários deles inclusive, observando com mais atenção (com o ego de lado a gente enxerga melhor), eram escrotos. os elogios eram vazios, e se não fosse meu ego faminto eu ia achar aquele circo completamente patético.
o problema todo de fazer essa observação crítica com o ego de lado é que chega a hora da verdade, em que a gente se pergunta “por que tanto oba-oba?” e a resposta é desagradável: somos nós que atraímos esse tipo de gente, como o mau cheiro atrai moscas. há momentos na vida (com sorte, passageiros) que a gente ao invés de viver em equilíbrio, cria ao nosso redor uma matrix: vivemos e sentimos uma realidade e projetamos outra para o mundo exterior. projetamos para o mundo algo distante do que somos/sentimos, criando uma ilusão para os desavisados. há os que criem a ilusão para o mundo de que “minha vida é um horror” e os que se comportam no esquema “vivo no mundo de comercial de perfume”. porque viver vida normal, com altos e baixos, não dá ibope, não chama a atenção, não gera “likes” (ou “flames”, que é o oposto na escala).
(mas também não chama doidos. ponto pra vida normal!)
quando vemos, estamos vivendo uma mentira e cercados de puxa-sacos deslumbrados, prontos pra elogiar nosso pum (ou stalkers malucos, querendo matar nossos coelhinhos na panela. todos pertencem à mesma categoria de maluquice, não se iluda), que retroalimentam nosso mecanismo de criar uma realidade ilusória. porque nosso ego se alimenta de atenção (positiva e negativa), e ele é um serzinho faminto. só que pra alimentar o ego o preço (alto) é conviver com malucos.
tá mesmo a fim?
caso sua resposta seja NÃO, fica a dica: livre-se dos puxa-sacos, pois eles atrapalham seu processo de ser você mesmo e ser verdadeiramente feliz com sua vida e você mesmo, e não com a matrix. só que pra isso, você vai precisar ser você mesmo e parar de armar picadeiro. baita oportunidade, hein?
(e se você atrai malucos raivosos, fique também atento. nada é à toa, você colhe só o que planta)
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NOTA:
puxa-saco é aquele que elogia tudo que você faz, dá like em todos os seus posts, acha lindo tudo que você escreve ou fala, grita PODEROSA ou GOSTOSO quando você aparece, acha todas as suas roupas lindas, elogia seu cabelo todo dia, comenta todos os seus posts, se mete em tudo que você fala pra dizer que concorda, e uau, “você diz exatamente o que eu queria dizer”, e “eu super me espelho em você DEMAIS, sabe?” … ok, acho que vocês entenderam. todo mundo tem um amigo ou amiga assim, seja no escritório, no facebook, na academia.
e aqui entre nós — vocês realmente acham que as pessoas pensam e sentem isso? vocês acham sincero, de coração, tanta admiração constante e insistente? da pior forma possível, descobri que essas são as mesmas pessoas que na primeira oportunidade falam mal de você pelas costas, da forma mais asquerosa.
mas enfim, essa é minha vivência, não quer dizer que vai acontecer com você. talvez seus puxa-sacos sejam melhores que os meus 😀