nos últimos dias tive a oportunidade de rever aspectos da minha vida através da memória. não “penso na vida” todos os dias, até porque sou muito prática e me concentro bastante em fazer as coisas acontecerem no dia a dia. não passo tempo revivendo o passado e nem elucubrando muito sobre o futuro, atividades que considero tão úteis quanto ver TV. mero passatempo. mas nesses dias reencontrei um amigo que fez parte da minha vida há mais de 20 anos, e fiz um resumo do que houve neste tempo, e como estou hoje, o que acabou sendo um grande exercício de reviver o passado. e graças a uma conversa com uma amiga que acabou de se separar, acabei também relembrando passagens da minha história que há muito tempo não vinham à tona.
também tive a oportunidade nos últimos dias de fechar um ciclo que vinha me incomodando, por interpretá-lo como círculo vicioso. encerrar uma etapa e ir para a próxima também requer alguma revisão, então relembrei, pensei, analisei o que vivi por outro ângulo, já sem a paixão do momento, o que ajuda a colocar coisas nos seus devidos lugares.
(digo de passagem que é impressionante como meus 3 anos de terapia foram um divisor claro de águas. sem medo de errar digo que minha vida se divide em antes e depois da terapia, e mudou pra muito melhor. por mais que eu creia que investir na saúde e equilíbrio mental seja tão importante quanto comer bem e se exercitar, também creio que terapia infinita não é boa ideia. acomoda, vira muro de lamentações, penélope tecendo até o fim dos dias. meu processo terapêutico me ensinou a lidar com situações e pessoas de uma forma mais saudável, objetiva. sem drama, sem punheta mental.)
relembrar e reviver algumas coisas foi curioso — percebi o quanto minha vida mudou, e quantas decisões eu tomei pra que ela mudasse. não só nos últimos 20 anos, como era de se esperar (entre eu-recém-formada e eu-mãe-e-executiva há um abismo, claro), mas nos últimos 5 anos. ao olhar de longe, de cima, vi uma trajetória clara. é como se eu olhasse minha vida no google maps, e fosse afastando até poder ver origem-destino, bem de longe. e vi um caminho que eu construí e escolhi, do qual tenho muito orgulho e amo. a despeito dos muitos erros que cometi no caminho, seja tomando decisões equivocadas ou errando com pessoas que cruzaram minha vida, o trajeto se manteve. pequenos desvios, aqui e ali, não me atrapalharam. não peguei nenhuma encruzilhada da qual me arrependo, e que demandaria um retorno longo e doloroso.
todos os meus erros e equívocos não me desviaram do caminho. e o mais curioso é que eu nunca soube (não sei ainda, talvez) onde quero chegar. nunca fui do tipo de pessoa que se coloca metas de longo prazo, que tem planos mirabolantes e anota conquistas no papel pra “pedir pro universo” (acho isso tudo uma bobagem sem fim). minhas metas são sempre de curto prazo, muito práticas. e ainda assim, revendo minha história, existe um norte não-físico, tão claro: ser mais simples, ser tranquila, ser feliz.
fiz um resumão da minha vida e concluí que: faço um trabalho que me dá grande prazer intelectual e orgulho, que me proporciona relacionamentos interessantes, com pessoas inteligentes, complexas; meu núcleo familiar me traz felicidade e desafia constantemente. não é fácil manter qualquer relacionamento, mas percebi que me nunca é, e que o importante é o desejo de continuar no mesmo caminho (e isso está claro); mantenho uma relação legal e tranquila com minha família e amigos, sem grandes badalações, sem cobranças; moro num local que amo, e tenho tudo o que preciso para viver; viajo com frequência, o que é um fator importante de felicidade pra mim; tenho saúde, gosto de mim mesma, todos que eu amo estão bem.
lembrar minha história me fez ver como estou hoje muito melhor que ontem e antes de ontem e antes-de-antes. justamente como acredito — esta, a atual, é a melhor época da minha vida. há coisas específicas que foram melhores em outras épocas? claro que há. todas pontuais, e eu já aprendi que não se pode ter tudo, sempre, tudo ao mesmo tempo. já não crio mais essas expectativas, simplesmente agradeço pelo que tenho, olho com amor o que conquisto, abro mão do que já não tenho mais, não é meu. já foi.
e no fim das contas, percebi que o fato de ser feliz a maior parte do tempo tem a ver não com o caminho, mas com meu andar. sem tanto peso, sem destino certo, fazendo a trilha conforme ando, me adaptando e deixando no caminho coisas que não me fazem feliz, que não agregam.
são as escolhas instantâneas, aquelas no decorrer de cada dia, que fazem a diferença. não houve e não haverá um evento, uma mudança cósmica e mágica, uma escolha sensacional. há o abrir os olhos de manhã, fazer todas as pequenas escolhas no decorrer do dia, e a gratidão por estar aqui vivendo essa vida, do jeito que eu escolhi.
o que traz felicidade é ter escolha. eu tenho, e sou.