fui criada na praia, mesmo morando em são paulo. fins de semana e longas, longas férias, de inverno e verão, sempre foram passadas na praia. e o mar era como uma segunda casa pra mim, não me lembro de quando não nadava ou não mergulhava.
piscina não fazia muito parte da minha vida, mas nadar no rio era bem comum. mas tão distante de nadar no mar quanto a noite e o dia — pra mim o mar é temperamental, ardido. o rio, mesmo caudaloso, é tranquilo, doce.
aprendi a pegar jacaré muito pequena, com meu pai e irmãos. era uma das nossas brincadeiras favoritas, com prancha ou sem. e um pouco maiores, brincávamos em praias bravas, “de tombo”. e quem já frequentou praia de tombo sabe como é — dá medo, porque a gente é arrastado, mexido como se estivesse na máquina de lavar. perde o pé, completamente, e se não tiver cuidado morre afogado MESMO.
mas ainda pequena fui ensinada (provavelmente pelo meu pai) a lidar com as ondas, e com os “tombos”: manter-se EMBAIXO da água; ficar de olhos abertos, observando; ficar no fundo, evitando a arrebentação; não se debater, que gasta energia à toa; nadar para áreas mais calmas logo que possível; ter calma, que vai passar.
parece fácil, mas é difícil. a última parte, em especial, quando você está lá embaixo daquela montanha de água e acha que vai morrer sem ar, que a onda nunca vai acabar. se você desesperar ou resistir, piora. não dá pra brigar com uma montanha de água, é preciso CEDER.
bem mais tarde, já mulher adulta, me vi enfrentando ondas que não eram de água. montanhas de sentimentos, problemas, e completamente sem ar, pronta pra afogar. e sei lá como lembrei que afinal eu sabia como furar ondas, e comecei a procurar a calma dentro de mim. tive que a esperar e me acalmar, simplesmente aceitar que há montanhas maiores que eu e que às vezes me cabe ceder, somente. a hora de emergir sempre chega, é só observar.
com um beijo, pro Kazi.
Zel, você é adepta do zen-surfismo?
nada do que foi será de novo
do jeito que já foi um dia
tudo passa,
tudo sempre passará
a vida vem em ondas como um mar
num indo e vindo infinito
tudo o que se vê não é
igual ao que a gente viu há um segundo
tudo muda o tempo todo no mundo
não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo
agora, há tanta vida lá fora
aqui dentro sempre
como uma onda no mar
Como uma onda no mar (zen-surfismo), de Lulu Santos e Nelson Mota (1983 – segundo a Wiki)
Beijos e feliz ano novo atrasado.
não sou adepta, mas faz todo sentido hein? 😉 beijão, feliz 2014!