Gente de deus, deixa eu contar uma coisa: há uns 20 anos (sem exagero) comi Farinha Láctea pela última vez. Na minha memória afetiva era uma coisa maravilhosamente gostosa, diabólica, um manjar dos deuses. Mas, é da Nestlé (sou contra), e sempre associei com “comida que engorda”. Além de ser caro pra caramba. Então nunca comprei pra minha casa, nem lembro onde comi.
Mas aí o demônio me tentou na última vez que fui pro supermercado e mandei um fodace, comprei.
Imaginei que ia ser uma decepção, como quase sempre é quando a gente confronta a memória afetiva com a realidade. Aí eu abri a lata…
O cheiro. Não sei o que é aquilo, mas já mexeu com todas as lombrigas, que começaram a gritar AHHHHHHHHHH!!!!! — coloquei aquele pó dourado maravilhoso no potinho é um pouco de leite, pra fazer um mingauzinho.
Gente.
GENTE.
GE-N-TE!
É o Nirvana da comida de sentir culpa, deslizar na montanha russa da memória de criança, nadar na piscina do açúcar como fonte de prazer.
Precisou de mais leite, porque virou um cimento depois de uns segundos, mas é a argamassa do coração que mora no meu estômago e comi com um prazer que juro que não me lembro da última vez de sentir comendo nada.
Não sei como viver com aquela lata fechada lá na despensa.
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Fer chega em casa e conto a experiência, de forma mais resumida.
Eu vi o ceticismo no olhar dele, quando meio tirando sarro ele foi lá pra se confrontar com a memória afetiva dele.
Preparou a papinha de Azazel e provou. Escutei de longe:
AHHHHHHHHHHHHHHHH!!!
Conclusão: ele quer vender o carro pra comprar latas e latas de Farinha Láctea.
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Não comprem. Não provem. Digam não às drogas, especialmente as lícitas.