Houve uma época que eu era jovem e gostava de Carnaval. De sair na rua seguindo blocos (fui por anos pra Olinda pra isso), ou nas matinês quando era criança. O tempo passou e comecei a detestar a multidão, o barulho, os assédios, a sujeira (ou seja, a falta de educação alheia).
Em 2016 descobri que eu podia tocar no Bloco aqui da cidade, e me animei como musicista diletante que sou. Mas percebi também que não bastava, não era em qualquer bloco que eu queria tocar — eu queria fazer parte de um coletivo com identidade e posicionamento.
(Até por isso não me interesso em tocar com quem não tem propósito)
O Bloquete é composto por amigos, sim, mas não é só isso: é um grupo com posicionamento político. É um grupo de acolhimento aos que são excluídos. Os moradores de rua da cidade (eles existem sim) vêm tocar e dançar com a gente, E A GENTE ACOLHE. As bichas, sapatão, travestis, e mesmo pessoas como eu que não se identificam como heterossexuais apesar de estar em um casamento hétero, se sentem contempladas e entendidas. No nosso coletivo há pessoas não brancas (menos do que poderia, mas chegaremos lá), e muitos fora dos padrões branco-hétero-magro-depilado-e-alisado.
Aí conheci o Baque Mulher, que é muito mais que um bloco de Carnaval, é um movimento social de resgate e empoderamento de mulheres. É um coletivo para mostrar que podemos tocar tambor, sim, e podemos sair da condição de coadjuvantes ou vítimas. É trabalho social misturado com arte.
É esse tipo de Carnaval que me interessa: o que permite que todo tipo de pessoa seja incluída e enxergada, não só os que têm espaço na Caras; o que traz pra cada participante a noção de que faz parte de algo maior.
Viva o Carnaval de rua! Ocupem suas cidades, façam parte dos coletivos, exercitem sua cidadania e o direito de expressão.
Nós existimos.