Dia da consciência negra

No dia da consciência negra no Brasil, queria convidar meus amigos e amigas brancos a um exercício que tento fazer e pretendo intensificar: seguir mais pessoas negras nas redes sociais e LER / OUVIR a opinião delas.

Não precisa concordar, só ouvir e prestar atenção às diferenças. Tentar entender que existem questões que são importantes pra essa população que sequer tocam no dia a dia de quem é branco.

Quando achar que é reclamação demais, “mimimi”, tentar pensar na razão de você achar que eles falam demais sobre algo, ou reclamam de algo que não te afeta. Porque a chave de tudo pra mim é isso: por que essas questões não me afetam mas afetam a eles? Por que eu nunca me incomodei com isso? Por que isso não faz sequer sentido pra mim?

Um exemplo legal pra mim é estar atento a expressões que têm história racista ou que de alguma forma ofendem quem é negro:

Mulata, mulato — estão associados com mula, que é uma mistura de asno com cavalo. Mistura de negro e branco, com conotação negativa (alguém já viu mula sendo usado como elogio?)

“Dia de branco” — faz tempo que não vejo ninguém usar, felizmente, mas se refere ao dia de trabalho. Ironicamente, é como se brancos trabalhassem. Imagino que tenha a ver com a noção repetida tantas vezes que negros e índios são preguiçosos, e quem trabalha mesmo são os brancos.

Branco é usado como sinônimos de bom, puro e limpo, e negro como sinônimo de sujo, ruim. Existe muito que falar sobre isso do ponto de vista semiótico também, e em que medida essa categorização, que é tão humana, tem raizes racistas ou não. Mas pra além da discussão da validade intelectual de algumas análises tem também a questão do acolhimento de quem sofre racismo todos os dias, em inúmeras esferas. Independente da comprovação intelectual do racismo em uma expressão, se ela machuca o outro, faz com que o outro se sinta diminuído, não seria razão suficiente pra evitá-la?

Eu sei que não é tão simples, e também tem o lado de quem emite a mensagem — e minha liberdade de expressão? E minha individualidade? O quanto preciso eu me adaptar ao outro?

Creio que quanto mais conhecemos, nos aproximamos e apreciamos o outro, maior nosso desejo de acolhê-lo e fazê-lo sentir-se incluso. Por isso volto ao começo do meu texto: siga mais pessoas negras; tenha mais amigos e amigas negras. Ouça o que eles têm a dizer. Seu respeito e apreciação vão aumentar, sua atenção aos detalhes que são importantes pra eles vai aumentar, e estaremos mais próximos.

Faça esse esforço de se aproximar do outro. É a melhor contribuição que você pode dar pra você mesmo e pra sociedade.

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