Uma parte importante do meu trabalho (remunerado ou voluntário) é ajudar as pessoas a atingir seu potencial, ser a melhor versão delas mesmas naquele momento. Além de ser algo que faço por mim e pra mim também, claro.
Não enxergo outra forma de fazer isso senão observando / ouvindo sinais que vêm de todos que nos cercam, e interpretando. Por exemplo: se alguém acha que você é grosseira, não significa necessariamente que você seja, mas aquela pessoa interpretou dessa forma. A curiosidade de entender o ponto de vista do outro é que faz a diferença e nos ajuda a sermos versões melhores de nós mesmas. Mesmo que a gente não concorde com o outro, alguma lição há de sair dali, pra que sejamos o que queremos ser.
Então, usando o mesmo exemplo, entender que quando você se expressa da forma X parece grosseria para a pessoa Y pode criar um desejo de se adaptar à pessoa, e se expressar diferente. E pode ser que você também não queira se adaptar, e o outro que dê seus pulos, claro. Tudo depende do que VOCÊ quer. A sua melhor versão de si mesmo é a que te interessa naquele momento.
Quando eu digo que todo feedback é valioso, as pessoas às vezes ficam céticas, fazem piada, porque tem retornos que as pessoas dão (direta ou indiretamente) que são escrotos mesmo. Às vezes são feitos pra machucar, pra derrubar. É claro que incomoda e dói, ninguém gosta de se sentir errado, exposto. O que eu penso e prático é: deixa doer, deixa incomodar, e observa. Que parte da mensagem dói, o que incomoda?
A curiosidade sobre os estímulos que chegam até nós é a nossa melhor arma pra deixar pra lá o rancor, e se concentrar no que interessa: ser feliz, ser melhor. Quando um feedback chegar até você (pode ser direto e verbal, pode ser não-verbal, pode ser fofoca, não importa), faça perguntas sobre o que chegou. Seja curiosa, como uma criança, não assuma nada, tente se colocar no lugar do outro. Por que isso importa pra ele? Por que ele se incomodou? Será que eu poderia ter feito diferente? Qual seria uma estratégia alternativa nessa situação pra evitar que o outro se machuque?
Fazer perguntas pra si mesmo, e tentar fazer o papel do outro, ajuda demais a lembrar que relações são sempre vias de mão dupla. E às vezes as coisas também são o que são, e o outro — se quiser — que também trabalhe seu autoconhecimento pra fazer melhor nas próximas.
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Mas eu comecei esse texto pra falar de outra coisa, e viajei. Me incomoda demais nessa onda de positividade a todo custo dizer que VOCÊ PODE TUDO, vai que é tua! Vai dar tudo certo!
Gente, não é assim que funciona. Nem todo mundo pode tudo e nem sempre vai dar certo.
A gente precisa aprender a lidar com os reveses, e não acreditar que “vai dar certo” e “se não deu certo é porque ainda não terminou” e essas bobagens. As coisas dão errado, e a gente não é bom em algumas coisas. Admitir que não é bom em algo e criar mecanismos pra resolver isso é fundamental! Admitir que algo deu errado e conseguir seguir assim mesmo, lidando com a frustração, também.
Como pessoa que orienta outras, eu sempre peço que façam uma autoanálise bem honesta e entendam no que são bons e no que não são. E precisa fazer um plano pra minimizar o impacto de não ser bom em alguma coisa importante (tem coisa que não faz falta, deixa pra lá).
Um dos melhores planos pra compensar em áreas que você não é tão bom, é se cercar de quem é bom nisso. Criar uma rede de segurança. Você sabe que vai pisar na bola eventualmente, então peça ajuda.
Detesto essa ideia de que “você pode tudo”, porque é mentira. Não pode, especialmente sozinha. Ninguém pode tudo. Ninguém acerta sempre. Admitir isso é a base de tudo, e aí começar a criar suas redes de segurança, seja através de outros ou de aprendizado seu.
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Nós não podemos e nem devemos “tudo”. Vamos juntas, busquemos apoio, não tem porque caminhar sozinhas.