Nos últimos dias do ano eu queria compartilhar com vocês uma descoberta triste que fiz esse ano mas que pode servir pra outras amigas bem mais jovens.
Dieta, restrição alimentar, ENGORDA no longo prazo. No curto prazo funciona, como vocês vão ver ou já sabem, mas no longo prazo é um desastre para o corpo e para a mente é uma doença. Ficar obcecada pelo que come, não come, quanto pesa, que tamanho veste, quanto faz de exercício é doença mental sim, é transtorno alimentar. Felizmente estamos entrando numa nova era em que médicos e nutricionistas estudam mais sobre isso de forma objetiva, e quem sabe em alguns anos paremos de fazer dieta.
Fiz minha primeira dieta com 16/17 anos, quando pesava cerca de 60kg. Eu tenho 1.52cm e meu corpo ela excelente, forte, saudável, bonito, mas eu era *gorda* afinal a tal regra é que você deve pesar menos que sua altura, certo? Passei meses me alimentando de iogurte batido com fruta e salada. Meu peso baixou pra 50kg mais ou menos e não consigo transmitir pra vocês a quantidade de elogios que recebi. Cheguei a ouvir que “meu corpo sempre tinha sido lindo, mas agora estava UAU!”. E eu, enfeite de ambiente, tipo uma escultura, achei isso o máximo. Me senti vitoriosa, poderosa, maravilhosa.
Com 20 e poucos anos meu peso tinha subido para 68-70kg e eu me achava gigante. Entrei numa dieta de remédios, umas bombas que me deixaram meio zureta mas pra emagrecer a gente faz qualquer coisa né? Foi quando entrei na onda dos alimentos dietéticos, de leve, porque não tinha fome e vivia com a boca seca. Mas cheguei a uns 60kg e fiquei satisfeita.
Com cerca de 28 anos meu peso era 77kg. Resolvi entrar para os vigilantes do peso (talvez já tivesse entrado antes, na dieta anterior!) porque não queria tomar remédios, e mergulhei no mundo dos produtos light e diet e do controle de pontos para comida. Por um lado me tornei consciente do que comia, e quanto, mas por outro fiquei neurótica com o que comia e minha vida era contar pontos. Meu peso baixou para 65kg mais ou menos, e achei que estava de bom tamanho de anos na dieta. Achei que conseguiria manter esse peso que era longe do que eu já tinha emagrecido mas era ok.
Poucos anos antes de engravidar do Otto (35 mais ou menos) meu peso estava em torno de 80kg. Apelei de novo pra uma bomba de remédio de um médico picareta e tive uma reação alérgica tão louca que desisti e parei.
Engravidei do Otto com 84kg e cheguei ao final da gestação com 90kg. Meu peso baixou pra 77kg depois dos primeiros meses, mas em 2 anos eu estava já com 86kg.
Com 39 anos então decidi fazer uma dieta e intervenção MUITO LOUCA tomando um injetável que modifica a produção de insulina (com acompanhamento de médico fodão famoso). Cheguei a 70kg e tive uma crise de pedra na vesícula, tive que fazer cirurgia, etc. e de novo foi impressionante como as pessoas me elogiaram por ter perdido tanto peso.
Aos 47 eu estou com cerca de 85kg de novo, e esse ano um médico insistiu MUITO pra eu fazer outra dieta maravilhosa que não tem erro — a keto. Mandou fazer por 3 meses, que eu ia perder 10kg fácil. MAS SÓ 3 MESES, que não é bom pra saúde manter essa dieta! Detalhe: TODOS os meus exames perfeitos. Pra não dizer que não tá perfeito, tem um pouco de gordura no fígado, normal pro meu peso.
Fiz a tal da keto, perdi uns kilos com certeza, nem pesei. Mas parei depois de 3 meses, e adivinha? Estão aqui todos os quilos de volta.
Não me peso mais, pois só me causa desgosto. Prometi a mim mesma nunca mais fazer dieta, pois esse meu caso não é isolado, não é “causo” — há inúmeros estudos a respeito. Dietas causam ganho de peso no longo prazo, pois modificam nosso metabolismo basal.
Se eu não tivesse feito dietas, provavelmente não teria quase 90kg hoje. Provavelmente estaria lá na faixa dos 60-70kg, que é mais adequada pro meu tipo físico de mulher pequena e gorda que sempre fui.
Gostaria que meus médicos nunca tivessem recomendado dietas mas que me incentivassem a fazer atividades que eu gosto, como auto cuidado.
Gostaria que as pessoas não elogiassem a perda de peso, me fazendo sentir culpada por ter estado “gorda” e fracassada quando eu engordava de novo.
Minha alimentação, pra quem tem curiosidade, só MELHOROU com os anos. Eu como muito bem e não como muito. Como menos do que muita gente magra, e muito melhor que a maioria delas.
Meus exames estão muito bem, obrigada. Minha saúde física é e sempre foi ótima; minha saúde mental foi piorando com o tempo, e me sentir inadequada tem um grande peso nisso.
Eu não precisava ter começado essa tortura aos 16 anos. Nenhuma de nós precisa.
Não façam dieta. Não deixem suas filhas e filhos presenciarem restrição alimentar com objetivo de reduzir o tamanho do corpo.
NÃO COMENTEM SOBRE O PESO DAS PESSOAS.
Ser magro NÃO É equivalente a ser saudável e nem melhor. Saúde não tem a ver com tamanho do corpo, cada vez mais isso está evidente nas descobertas científicas.
Desejo a todas nós um 2020 sem neurose alimentar e sem desqualificar as pessoas pelo seu peso.