Quando eu digo que todo mundo devia fazer terapia, é por amor e cuidado. A terapia mudou minha vida, e eu queria que todo mundo pudesse fazer, como eu fiz e faço.
Na minha última sessão, fiz um tipo de resumão do meu processo terapêutico, e foi divertido lembrar de novo como eu cheguei na terapia completamente cética sobre o processo. Fui buscar terapia lá no começo dos meus 30 anos por puro desespero — estava presa num relacionamento que me fazia sentir errada o tempo todo, e não sabia mais o que fazer pra melhorar. Já avisei logo de cara a terapeuta que não acreditava naquilo e ela riu, encarou meu ceticismo e me ensinou que eu podia mudar o mundo ao meu redor só mudando a mim mesma.
O relacionamento, no caso, bailou: em 3 meses percebi que estava sendo manipulada por uma pessoa abusiva, que me convencia que eu era doida, e não que ele era o típico esquerdomacho. Essa expressão nem existia na época, mas era o próprio, naipe flor-na-barba 藍 (e é PSDB, deusmedibre).
Toda primeira fase da minha terapia foi sobre aprender a dizer NÃO, colocar limites para os outros e respeitar meus próprios limites. A ansiedade sempre altíssima, porque eu nunca soube fazer nada de boas, tudo é pra ontem, e querendo acertar sempre. Tive que encarar o fato de que eu era (ainda sou; é um processo) bem pouco gentil comigo mesma. Tive que aprender a me permitir errar sem sentir que era o fim do mundo.
(Não é automático, mesmo depois de tantos anos. A cada erro é um processo para lembrar que eu posso errar. Todo mundo pode. Todos podemos melhorar!)
Muitos anos passaram nessa toada de aprender a me respeitar mais, e no meio dos meus 40 resolvi voltar e me deparei com outros desafios, relacionados ao novo momento da vida: separar alívio de prazer, e encontrar espaços de ser feliz fazendo coisas que me alimentam, e não só coisas que eu PRECISO fazer.
Fazer uma análise profunda pra entender o que realmente nos alimenta, o que nos faz felizes, é difícil. Porque o primeiro impulso (talvez em especial pra quem é mãe) é sentir culpa por querer fazer coisas que nada tem a ver com o filho. Nessa busca, entendi a importância imensa que minhas amigas e as atividades que faço com outras mulheres tem pra mim. Percebi também que preciso fazer algumas coisas sozinha — meditar, caminhar, ver um filme, ouvir música, ler.
Pra chegar ao ponto de entender o que eu desejava fazer, e o que me dava prazer (e não só alívio. Cumprir uma tarefa é gostoso porque causa alívio e não porque causa prazer) a terapia combinada com a meditação foram fundamentais. A terapia pra ajudar a montar o quebra-cabeça e a meditação pra organizar a cabeça e não me perder nos pensamentos.
Eu sei que não funciona pra todo mundo, mas meditar me ajudou a me “escutar”, a observar como me sinto INDEPENDENTE dos meus pensamentos. Aprendi a não engajar com todos os pensamentos e apenas deixá-los ir embora. Quando aprendi a fazer isso, consegui me observar melhor.
Meditar não é eliminar pensamentos, eles nunca somem. O que aprendemos é a não engajar com eles — pense que nossos pensamentos são ônibus e estamos no ponto. A gente vê o pensamento-ônibus chegando e não precisamos entrar no primeiro que aparece. Aliás nem precisamos entrar! Podemos ficar ali só olhando, oras
Pois meu processo atual é de buscar mais prazer, pois as obrigações eu já cumpro muito bem. O que me dá prazer? Como trazer essas coisas pra minha vida sem atrapalhar o resto dela? Que escolhas preciso fazer para usar melhor meu tempo? Como reconciliar tudo? (Spoiler: nem sempre dá)
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No meio dessa fase 2 do meu processo, fui invadida por uma ansiedade fora do normal, que me atrapalhava, e decidi procurar uma psiquiatra para avaliar. Junto com minha terapeuta decidimos que era um bom momento para usar medicação para ansiedade — primeiro porque diminuir a ansiedade ajuda no processo terapêutico; segundo porque ansiedade alta afeta a saúde física (pressão aumenta, glicemia aumenta; sono piora).
Foi a melhor decisão que tomei na vida — a medicação não eliminou totalmente minhas angústias / ansiedades, o que me motiva a investigar e trabalhar na terapia, mas me permite viver sem sofrimento.
Obrigada, ciência, por ajudar a lidar com problemas de saúde tão típicos do século XXI e seus desafios!
Cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar da saúde física. Não há nada de errado em pedir ajuda quando as coisas parecem difíceis demais. Não é sinal de fraqueza nem de incompetência — pedir ajuda é uma demonstração de inteligência e amor próprio.
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Conto essa história todinha porque esse assunto apareceu no nosso podcast Salve, Rainhas! essa semana episódio #22, graças ao 7 de copas, que fala justamente de prazeres e escolhas.
Percebi que essa é uma questão importante pra muitas de nós — sobrecarga, ansiedade, alívio x prazer, deixar-se em segundo plano.
Ame-se, escolha-se, cuide-se.
E peça ajuda. Eu garanto que tem quem queira muito ajudar ❤️