Hoje eu assisti essa pequena história de um pai, três meninos e sua família, incluindo a mãe que faz essa mistura acontecer. O enredo é comum (mãe com 3 filhos abandonados pelo pai, cuida do próprio pai e do irmão com necessidades especiais) mas o desdobramento é tão bonito, catártico, lírico mesmo.
Escutando os 2 contando sobre vender coxinhas de dia pra comprar ingredientes pro jantar da família (senão não tinha janta) eu fiquei mexida não só porque é muito foda, mas porque eu do alto de todo meu privilégio tenho medo, insegurança, estando cercada de mil redes. E eles ali com suas coxinhas e uma família grande pra sustentar pegam um guarda-chuva e saem vendendo, até porque não podem se dar ao luxo de ter dúvida.
A dúvida é mesmo luxuosa. Faço isso ou aquilo? Será que? E se não, e se sim?
Enquanto isso, a vida só segue pra quem não tem escolhas.
Pra lembrar todos os dias que enquanto temos escolhas temos TUDO.
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Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
‘coitado, até essa hora no serviço pesado’.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água
quente.
Não me falou em amor
Essa palavra de luxo.
(Adélia Prado)