como gostar de ler

até os 17 anos eu odiava inglês. estudei em escola pública a vida toda, lembro de dois momentos distintos relacionados ao estudo de idiomas: a descoberta de que havia outros idiomas que não o meu e a clara percepção de que aquelas aulas de inglês eram ridículas e não serviam pra nada.

lembro como se fosse hoje do encantamento com o inglês: outras pessoas usavam palavras diferentes mas significando as mesmas coisas, como assim? obviamente não foi essa a primeira palavra que aprendi em inglês, mas a que mais me lembro é daughter. lembro de estar sentada na mesa da casa da minha avó paterna, almoçando, e contar empolgadíssima pra uma tia que mal disfarçava o riso o quanto era o má-xi-mo que a palavra se escrevia de um jeito e se pronunciava de outro jeito!

(eu era daquelas crianças irritantes que gostavam de chegar da aula e explicar tu-do que aprenderam no dia, como se fosse novidade pra todo mundo. tá, eu confesso: faço isso até hoje, não mudei nadinha)

pois acho que foi na sexta série (existe isso ainda?) que percebi que aquelas aulas de inglês nunca iam sair do “to be” e da cópia de diálogos do livro. é, a aula de inglês da escola pública era assim. não é de admirar que eu odiasse as tais aulas com todas as forças…

quando fui pra faculdade, inglês era obrigatório e eu com meu conhecimento básico-do-básico fui pra turma do inglês instrumental, ou seja, a turma dos fraquinhos. na aula número 1, com uma professora novinha e fofa, cujo nome esqueci, tudo mudou. a partir daquele dia eu passei a amar inglês e não parei nunca mais de estudar e adorar.

ela seguiu o mesmo princípio que norteia esse artigo muito bom sobre aprender idiomas: simplicidade. na primeira aula ela colocou na lousa algo que era obviamente uma receita, pelo formato, mas num idioma desconhecido pra todos na sala. apesar disso, ela nos desafiou a interpretar a receita e ver o que saía dali.

aos poucos fomos extraindo dali algumas informações, inferindo significados e chegamos, juntos, a uma interpretação possível da tal receita. ao final descobrimos que aquele “idioma” não existia, era uma mistura de palavras de tudo quanto é canto e uma provocação para nos mostrar que é possível interpretar textos (com menor ou maior acurácia dependendo do conhecimento do idioma, claro) mesmo que não tenhamos completo domínio do idioma em questão.

cada dia ela nos trazia um desafio novo e mais complexo de interpretação: textos de variados assuntos, em inglês, para que identificássemos palavras conhecidas, palavras cognatas (ou que assim parecessem!) e palavras cujo significado não sabíamos mas podíamos inferir pelo contexto. na aula não podíamos usar dicionário, tínhamos que procurar depois o que incluíamos na nossa lista. a recomendação mais importante era não traduza, entenda!

aprender a entender e não a traduzir dentro da cabeça foi a chave do aprendizado, o que fez toda a diferença. eu me pergunto até hoje: por que há quem ensine inglês de outro jeito?

no processo, tive gratas surpresas: a primeira foi perceber que na verdade muitas das palavras nos textos eram conhecidas; eu achava que não sabia nada de inglês, afinal. a segunda foi me dar conta que não era preciso saber o significado em português da palavra que eu estava lendo em inglês, que era possível aprender novas palavras sem traduzir pro português! é claro que as consultas ao dicionário enriquecem o aprendizado de novas palavras, pois a descrição é mais completa e nos dá uma outra dimensão de entendimento. confesso que a percepção de que é perfeitamente possível aprender outro idioma sem nenhum tipo de tradução me deixou chocada. e feliz, é claro 🙂

que fique claro: é essencial uma base mínima de gramática e vocabulário, sim, pra poder começar, mas nada complexo ou difícil. um outro professor que tive depois ensinou mais uma lição valiosa — comece pequeno, não queira formular frases e pensamentos complexos em um idioma que você não domina. pense que você é uma criança aprendendo a formar frases! (e não somos como crianças mesmo, quando estamos aprendendo outro idioma?)

a partir dessa época não tive mais medo de nenhum texto em inglês. li tudo o que pude e fui, aos poucos, construindo meu vocabulário e me acostumando com o idioma. nos 4 anos seguintes aprendi mais do que nos vários anos de ginário e colegial, e, de quebra, aprendi a aprender idiomas.

estudei francês logo depois que aprendi inglês pra valer, e o método era parecido, porém com ênfase em conversação. o professor sempre falou tudo em francês desde o dia 1, e aprendi francês em francês, sem nenhum problema. em 1 ano eu conseguia escrever, ler e conversar, sempre de forma simples, mas eficiente.

pronunciar corretamente e conseguir ouvir/entender em outro idioma são outros quinhentos, e na minha opinião têm mais a ver com habilidade do indivíduo e menos com o método de ensino.

mas contei essa historinha toda pra incentivar quem comentou sobre a leitura do harry potter em inglês (incluindo minha irmã querida): leiam, não tenham medo! não fiquem tentando entender 100%. nem em português a gente entende 100%, às vezes 🙂 não pare toda hora pra olhar dicionário, mas mantenha uma lista pra olhar depois. volte e leia de novo, se precisar, mas leia e não desanime. depois de algumas páginas a leitura flui com mais facilidade; depois de alguns livros você já não vai mais ter tanta dificuldade e seu vocabulário vai melhorar horrores.

e independente do idioma, have fun! divirta-se na sua leitura 🙂

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  1. Olha só eu aqui novamente…..

    Nem preciso dizer que este seu post vai parar ao lado daquele outro sobre “aprender a ler”.

    E sim, vou tentar ler em inglês sem medo nenhum, afinal, também estudei a vida toda em colégio do estado e meu ingles também não passou no verb to be, o que só foi superado quando trabalhava em uma empresa cujo chefe fala 5 idiomas( sim, fala, escreve, lê, entende – um horror!!!(ah!ah!ah!))e ele nos fazia ouvir, ler, conversava conosco em vários idiomas e a gente ali, só rebolando….

    Hoje tenho um filho de 7 anoso que aprende ingles na escola e -graças a deus – com uma professora que pensa igualzinho à sua professora novinha. as aulas são estimulantes para os pequeninos, toda semana ele vem com pelo menos 10 palavrinhas novas no seu vocabulário e às vezes assistindo à TV ele entende o que estão falando só por aproximação, pela junção de palavras que ele já conhece,com a imagem e com o contexto. É fantástico ver o desenvolvimento dele. Realmente deveríamos aprender outros idiomas como as crianças…..

    E sem querer parecer mãe coruja, pois não é só ele que é assim, os amigos também. Vc precisa ver a pronúncia dos danadinhos…..é fantástica!!

    Um Beijo grande….

    Ah! OBS.: Vi que vc quer dicas sobre a grécia. Minha cunhada acabou de voltar de lá. Vou pedir para ela te mandar algumas, ok?

    Pelos comentários no retorno. Ela ADOROU

    Agora sim, beijão

  2. Zel, minha relação com o inglês foi como a sua, no começo… Na minha escola o inglês era fraquinho, fui estudar na Cultura Inglesa e amei… Com o tempo, ou melhor, com a falta dele, meu inglês foi ficando de lado. De costas. Tchau, inglês!

    Até que conheci meu marido, que é alemão e fala inglês lindamente… Inglês é a nossa língua, voltei a ler livros inteiros em inglês (devorei o Harry Potter 7 em um fim de semana), mas estou apanhando feio do alemão. Moro na Alemanha desde dezembro e tenho frequentado cursos intensivos, mas não tive muita sorte… O método mais popular aqui é a decoreba! Minha última professora fazia chamada oral todos os dias, o que tomava uma hora de aula. Espero ter a sorte de encontrar alguém que pense como a sua professora, já que é frustrante pra alguém que, no Brasil, trabalhava com as palavras (sou advogada, mas não posso exercer advocacia aqui, meu diploma não é reconhecido), não ser capaz de entender conversas corriqueiras, programas de tv e afins. Pra “ajudar”, os cinemas daqui passam filmes dublados, o único que passa filmes originais (e sem legenda) é um pulgueiro com uma tela ridiculamente pequena…

    Ufa! Prometo que, ao comentar de novo, serei mais objetiva….

    Beijos!

  3. Caramba Zel! este texto me cai como uma luva, eu também estudei em colegio público e o inglês era horrível, a gente só fazia traduções dos textos por isso a fixação em traduzir tudo. Eu nem lembro da professora falar em verbo to be então eu odiava o ingles. Começei a trabalhar e resolvi fazer um curso e passei a gostar mais do ingles, mas para ser sincera, acho que falta dedicação de minha parte…. então agora com o Harry vai ser dedicação total.

    Obrigada pelas dicas

    Bjs

  4. Pra vc ver como tô ficando boa no inglês, lendo livro enquanto não consigo fazer aulas de inglês (sem tempo e sem $$), vou resumir os 3 primeiros capítulos do Harry Potter 7 (o que consegui ler até agora, com minha super-hiper-mega-blaster velocidade):

    1) Voldermor is alive

    2) Dumbledore is dead (por enquanto, pra mim)

    3) Harry deu a mão pro cousin

    *hahahaha*

    Vamos fazer uma animação do Harry I a VII como aquele email do Senhor dos Anéis?

    **

    complemento dos capítulos:

    4º capítulo: Harry e seus amigos vão embora – Edwing vai pro saco (eu duvido!)

    5º capítulo: Olho tonto morre (eu também duvido!!!)

    6º capítulo: Birthday do Harry – ele continua um babaca

    7º capítulo: Casamento do Bill e da Fleur (ainda não acabei…)

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