Presente

Uma amiga querida me mandou <3

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da minha deusa, pra você que gosta de poesia.

FILÓ, A FADINHA LÉSBICA

(Hilda Hilst)

Ela era gorda e miúda.

Tinha pezinhos redondos.

A cona era peluda igual à mão de um mono.

Alegrinha e vivaz feito andorinha

Às tardes vestia-se como um rapaz

Para enganar mocinhas.

Chamavam-lhe “Filó, a lésbica fadinha”.

Em tudo que tocava

Deixava sua marca registrada:

Uma estrelinha cor de maravilha

Fúcsia, bordô

Ninguém sabia o nome daquela cô.

Metia o dedo em todas as xerecas: loiras, pretas

Dizia-se até… Que escarafunchava bonecas.

Bulia, beliscava

Como quem sabia o que um dedo faz

Desde que nascia.

Mas à noite… quando dormia…

Peidava, rugia… e…

Nascia-lhe um bastão grosso

De início igual a um caroço

Depois… Ia estufando, crescendo

E virava um troço

Lilás Fúcsia Bordô

Ninguém sabia a cô do troço

Da Fadinha Filô.

Faziam fila na Vila.

Falada “Vila do Troço”.

Famosa nas Oropa

Oiapoc ao Chuí

Todo mundo tomava
Um bastão no oiti.

Era um gozo gozoso

Trevoso, gostoso

Um arrepião nos meio!

Mocinhas, marmanjões

Ressecadas velhinhas

Todo mundo gemia e chorava

De pura alegria

Na Vila do Troço.

Até que um belo dia…

Um cara troncudão / Com focinho de tira

De beiço bordô, fúcsia ou maravilha

(ninguém sabia o nome daquela cô)

Sequestrou Fadinha e foi morar na Ilha.

Nem barco, nem ponte

O troncudão nadando feito rinoceronte

Carregava Fadinha.

De pernas abertas

Nas costas do gigante

Pela primeira vez na sua vidinha

Filó estrebuchava

Revirando os óinho

Enquanto veloz veloz o troncudão nadava.

A Vila do Troço ficou triste, vazia

Sorumbática, tétrica

Pois nunca mais se viu

Filó, a Fadinha lésbica

Que à noite virava fera e peidava e rugia

E nascia-lhe um troço

Fúcsia Lilás Maravilha Bordô

Até hoje ninguém conhece

O nome daquela cô.

E nunca mais se viu

Alguém-Fantasia

Que deixava uma estrela

Em tudo que tocava

E um rombo na bunda

De quem se apaixonava.
Moral da estória, em relação à Fadinha:

Quando menos se espera, tudo reverbera.

Moral da estória, em relação ao morador da Vila do Troço:

Não acredite em Fadinhas.

Muito menos com cacete.

Ou somem feito andorinhas

Ou te deixam cacoetes

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