fabricando

os pais

August 20, 2010 · 1 Comment

quero dizer o plural da metade masculina dos pais de uma criança, ou seja, o homem. eles podem ser nossos maridos ou não e morar na mesma casa ou não, tanto faz. quero falar um pouco sobre como vejo o papel dos pais na criação dos filhos, especialmente em colaboração com as famigeradas mães.

e só pra ficar claro: tudo o que vou dizer aqui, essa minha visão de como as coisas devem ser, se aplica somente aos pais voluntários. ou seja, aqueles que decidiram ser pais e concordaram com a empreitada. sou a favor do aborto e completamente contra mulheres que seguem adiante com uma gravidez à revelia do futuro pai. na pior das hipóteses, se ela for contra o aborto ou coisa equivalente, ela não deve cobrá-lo de nenhuma responsabilidade. afinal, engravidar é uma escolha sim, a menos que você tenha sido estuprada.

outra coisa importante de dizer já é que sei muito bem que alguns vão se identificar com os problemas que eu estou comentando, e até como forma de defesa ou auto-justificativa vão dizer que “é fácil falar” ou “quando for seu filho, depois que ele nascer, você vai mudar de idéia”. não, gente, não é fácil falar e a possibilidade de mudar de idéia quanto a algumas coisas não invalida os pontos que vou comentar. porque no fundo, vocês vão ver, estou falando de se comportar como adultos de verdade e ser (ou se tornar) um casal verdadeiramente companheiro e comprometido.

**

vamos lá: fico constantemente mal impressionada com o comportamento de certos pais que vejo por aí em relação à educação e cuidado dos seus filhos. e fico ainda mais envergonhada e constrangida pelo comportamento das respectivas mães, que no fundo reforçam o problema (e podem até ser a causa deles).

nem vou me estender no mérito da escolha do parceiro pra ter filhos, porque aí a coisa fica complexa. mas me pergunto quantas mulheres refletem sobre isso antes de engravidar, como eu fiz. eu poderia ter tido filhos muito antes na vida, de muitos outros pais, e preferi esperar porque queria ter filhos somente com alguém que eu realmente identificasse como um bom pai, além de ser um bom companheiro pra mim. mas enfim.

quando vejo as mães reclamando dos seus maridos como pais, não sei de quem tenho mais raiva. as coisas que mais me chamam a atenção (e espantam) são:

cansaço excessivo: não tenho dúvidas que criar crianças cansa e dá trabalho. mas por que só a mãe vive cansada e esgotada? a menos que você não tenha nenhuma ajuda pra fazer as atividades da casa, não consigo entender o stress. mesmo que você decida ficar amamentando 6 meses exclusivamente, dar o peito é a única coisa que só você pode fazer. todas as outras (to-das!) podem ser feitas por outras pessoas (arrotar, fraldas, banho, ninar, cuidar da casa). só consigo entender esse problema se não há nenhuma possibilidade de ajuda por parte de mais ninguém ou o pai trabalha o dia todo e não mora junto. porque ainda que ele trabalhe o dia todo, nada impede que no período da noite ele ajude nas tarefas. por que só 1 dos pais deve se esgotar? ficar em casa cuidado de bebê e da casa é um trabalho como outro qualquer.

acho que muitas mulheres simplesmente assumem o papel de super-mulher e não querem pedir ajuda por questão de orgulho ou vaidade. outras muitas entram na viagem errada de que cuidar da casa e dos filhos é responsabilidade exclusiva delas, porque o marido trabalha fora.

e se seu marido é do tipo de se recusa a ajudar, desculpe mas você escolheu muito mal seu companheiro pra começo de conversa. e nunca é tarde pra resolver esse problema, seja negociando uma mudança no comportamento dele, seja mudando as coisas dele pra outro lugar 😀 (ou você acha mesmo que ficar com alguém que se recusa a ajudar com seu filho é uma boa escolha no longo prazo?)

eles não sabem fazer nada direito: como mulher, confesso que essa é uma armadilha que eu caio, independente de ter filhos. “eles” nunca fazem as coisas direito 🙂 ou melhor – eles nunca fazem as coisas do jeito que a gente quer ou do jeito que a gente faria. são coisas bem diferentes. e se você faria diferente, por que não negociar e conversar, ao invés de simplesmente reclamar ou ir lá e fazer você mesma? é verdade que às vezes é preciso ceder (e é difícil…), mas faz parte. é isso que demonstra que um casal é realmente companheiro e, bem, adulto.

creio que mulheres são controladoras por natureza, e assumir o papel de mãe do seu companheiro é uma tentação constante. é muito mais fácil ficar puta, ir lá e fazer (ou refazer) alguma coisa do que conversar e explicar o que você preferia que tivesse sido feito. até porque às vezes o outro tem seus motivos também pra fazer as coisas de outro jeito. o outro pode até estar errado, mas tem direito (e dever, aliás) de assumir responsabilidades.

seu marido não coloca a roupa na criança do jeito que você acha correto? ao invés de reclamar dele ou assumir essa tarefa sempre pra você (e depois reclamar que está sobrecarregada), converse com ele e negocie. quando os filhos entram no relacionamento, aquela fase de auto-reconhecimento do casal começa toda do zero, afinal tem mais aguém na equação. é preciso reaprender a viver junto. paciência. pular essa fase, na minha opinião, é certeza de melecar o casamento.

só eu dou bronca: essa pra mim é uma das piores armadilhas, de novo por falta de negociação e excesso de controle. é muito comum ver as mães (que assumem a maior parte da responsabilidade e atividades com os filhos) serem as chatas e os pais serem os legais. fora os casos em que o pai é a autoridade maior (vou contar pro seu pai! ou só se seu pai deixar, que eu acho execráveis). é essencial, de novo, negociar com seu companheiro, e os dois devem dividir a responsabilidade e a chatice que é dizer não, cobrar, fazer comer, dormir, enfim: educar. a criança não pode ver os pais como personagens de uma história infantil maniqueísta. é verdade que se a mãe passa mais tempo com a criança, é mais provável que tenha mais oportunidades de ser chata, e exatamente por isso é importante que o pai use o tempo que tiver para atuar nesse papel também e equilibrar as coisas.

neste item tem um fator que pra mim complica ainda mais a coisa: a culpa, especialmente quando um dos pais ou ambos trabalham. me parece que o fato de trabalhar e somente algumas horas com os filhos (se isso é pouco ou muito eu acho discutível) transforma os pais em reféns. já que passam só algumas horas do dia com seus filhos, eles querem ser “legais” e “divertidos”. nada contra ser legal, mas escuta: o papel dos pais não é ser amigo dos filhos e nem entretê-los. seu papel é educá-los e garantir que eles sejam criaturas auto-confiantes e independentes. brincar faz parte do processo, mas é só uma parte e muitas outras pessoas podem e quer brincar com seu filho. pouca gente quer de fato educá-los.

minha maior preocupação na criação do meu filho é evitar a maldita culpa, fazer minha parte e ser feliz. além, é claro, de balancear com meu companheiro a responsabilidade de educar nosso filho de tal forma que ele perceba que seus pais estão afinados no relacionamento com ele. não quero ser a mãe chata, assim como tenho certeza que o fer não quer ser o pai autoritário ou permissivo.

mensagens/atitudes contraditórias: a mãe fala A e o pai fala B, na frente da criança. algum dos dois prevalece, e o mal está feito. em primeiro lugar, fica explícito o problema da falta de conversa e cumplicidade entre os pais; em segundo lugar, a criança percebe que pode fazer aliança com uma das partes pra conseguir o que quer.

não acho que os pais têm que concordar em tudo e nem conversar sobre tudo com antecedência, até porque é impossível. mas é preciso demonstrar cumplicidade e alinhamento, sim, pelo menos na frente da criança. nem que seja pra pedir uma pausa pra decidir, algo como “fulaninho, nós precisamos conversar uns minutos antes de decidir sobre isso, por enquanto nada fica resolvido”. e se a decisão for urgente ou não der pra esperar, acho que vale a que foi comunicada primeiro pra criança, mesmo que seja errada.

sei que na prática as coisas são mais complicadas que isso, mas meu ponto é simples: os pais precisam concordar que mensagens conflitantes não são boas pra criança, e nem pro relacionamento. discordar é normal e saudável, mas precisa ser tratado com honestidade e maturidade. uma criança não tem como acompanhar certas discussões e negociações, acho saudável poupá-la de argumentações entre os pais.

ciúme do bebê: essa eu acho o horror absoluto. já ouvi histórias medonhas sobre pais que têm ciúmes dos filhos com as mães, do tipo “você agora só pensa na criança” ou até ciúme da mãe poder dar o peito e ele não (soube de uma que pai queria porque queria que a mãe tirasse leite do peito pra ele dar na mamadeira, porque era “injusto” só ela poder amamentar).

aí é o seguinte: ou você já era mãe de um adulto mal-resolvido antes do seu filho nascer (escolheu mal de novo, amiga…) ou você pode estar mesmo exagerando no papel de mãe. convenhamos, tem mulheres que piram na batatinha depois de parir e só pensam e falam nos filhos 24h/dia.

acho mais fácil consertar e estar atenta ao segundo problema, é uma questão de auto-conhecimento e adaptação. imagino que ser mãe pira a cabeça da pessoa, mas com o devido interesse as coisas se ajeitam. basta querer, conversar (pedir pro seu companheiro ser honesto e conversar quando a coisa estiver ruim) e se empenhar pra melhorar.

consertar a situação de ter um filho mais velho e não um marido é mais complicada. não quero minimizar a capacidade masculina de se corrigir, por favor, mas ELE precisa se tocar que precisa virar adulto e assumir responsabilidades, ser companheiro e não dependente. há homens que simplesmente não querem, e ponto final. querem sua mulher ali sempre disponível pra ele: linda, loura, cheirosa e cheia de apetite sexual. além, é claro, de cuidar da casa e do bebê e não trazer problemas pra ele. além de trabalhar e ajudar com a grana, quando é o caso.

é inaceitável um marido criar problemas ou conflitos com a mãe por ciúme da criança. é compreensível sentir ciúme, sim, porque sentimentos não são controláveis, mas as atitudes podem e devem ser controladas. e se a coisa estiver pegando forte, caro pai, faça um favor a você e à família toda: vá pra terapia.

**

dito isso tudo, não posso deixar de comentar que vi exemplos ótimos de pais que são o oposto de pelo menos alguns pontos que destaquei. tive por exemplo a oportunidade de acompanhar por vários anos a dani e o felipeb criando suas meninas, e preciso destacar o quanto acho o felipeb um pai e companheiro nota 10 em vários aspectos (a dani com certeza deve ter suas reclamações, por que perfeição não existe :)). além de ter acompanhado a gravidez dela de pertíssimo como parte integrante e não coadjuvante, apoiá-la e estar presente no parto, ele sempre foi 100% participante nas atividades das meninas, fazendo mais do que qualquer outro pai que eu conheço faz. lembro perfeitamente dele trocando fraldas sempre, dando banho, ficando com as meninas pra dani descansar, dando comida (e inúmeras broncas :D), brincando. os dois juntos como pais me passam a sensação de responsabilidade compartilhada de fato, não é só discurso. já vi também os dois discordarem, mas isso nunca os impediu de agir como adultos responsáveis. além disso tudo, eles mantiveram sua vida como casal ativa, fazendo atividades só deles e nunca esquecendo o que os uniu antes das meninas existirem.

esse post, de certa forma, é dedicado a eles. não porque sejam perfeitos ou modelos pra nós aqui (até porque somos tão diferentes que seria impossível), mas porque eles nos mostraram e mostram que é possível ser pais e mães adultos, além de companheiros de vida, mesmo com todas as dificuldades que esse cenário apresenta. beijo pra vocês, queridos 🙂

Categories: educação
Tagged: