Otto,
Quando a mamãe pensou em ter um filho (só um), ele era sempre um menino e sempre adolescente. Sei que há os que amem bebês e crianças pequenas, mas não é meu caso. A infância pra mim sempre foi difícil e cansativa, um caminho pra chegar à idade que sempre achei mais legal, a adolescência.
Muitas coisas mudaram nestes 13 anos, e uma delas é uma apreciação diferente da infância. Quando comecei esse blog, escolhi o verbo fabricar porque crescer um ser dentro de si é um processo incrível de criação “do zero” e minha mente sempre tão lógica pensa em construção. Mal sabia eu que criar um humano vai muito além de fabricá-lo fisicamente, e que a primeira infância é um sem-número de momentos de fundação de tudo que nos faz nós mesmos. Não são os pais que “moldam” seus filhos, no entanto; nós somos meio, veículo. Entregamos as pecinhas, e cada criatura vai criando seu próprio mundo, pedaço a pedaço. Fui aprendendo nesse processo que a construção do seu mundo altera o meu, e que havia muito que eu precisava rever nas minhas fundações. Passei por transformações profundas observando você, criança. Graças a você resolvi problemas há muito escondidos e aprendi várias coisas simples e poderosas como dizer não sem (ou com menos) culpa e dizer sim mesmo com medo.
Você não sabe e provavelmente vai demorar a saber (talvez quando e se decidir ler essas cartas e posts) o quanto me ajudou a ser melhor. Não uma mãe melhor, pois sou só a que você tem, mas uma pessoa melhor para o resto do mundo. Graças a você sou mais corajosa, mas também mais compreensiva. Penso que escuto e observo melhor as pessoas, e tenho mais compaixão. Sermos tão diferentes me ensinou a, por amor, respeitar, e com o tempo simplesmente apreciar a beleza da diferença. É bonito ver você tão único, tão diferente, e brilhante em sua lucidez.
Você nasceu lúcido, Otto. Às vezes acho que você chegou entendendo tudo no dia 1, e se ressentia de não poder falar. Recentemente você me disse que odiava ser bebê porque não sabia falar. Como você não gosta de falar de bebês (especialmente você mesmo nessa época), deixei pra lá. Mas e se você realmente tivesse essa percepção, na época?
Lembro que você tinha 1 ano e percebi que ficava muito frustrado e não falava, e te ensinei a mostrar com as mãos que estava bravo. Você aprendeu imediatamente e comunicava de forma clara sua frustração. Eu repetia “Otto tá bravo, né?” e você parecia aliviado. Era muito louco, e ainda é: quão importante é que sejamos ouvidos, acolhidos no nosso incômodo? Você agora é bem eloquente, mas ainda pede acolhimento, e se faz ouvir nem que seja na marra. ADORO. Sua tenacidade é invejável, assim como sua auto estima. Você sabe que é amado, só duvido que saiba o quanto.
Sei que é um enorme clichê e que pessoas que não tem filhos se ressentem às vezes com a afirmação, mas não existe amor maior que por um filho. Sei que você neste momento não quer ter filhos de jeito nenhum 😀 mas saiba que por mais que seja difícil, insano, cansativo, é uma experiência inacreditável. Caso você nunca tenha filhos, não se preocupe porque sempre haverá o meu amor de mãe mais que o infinito e que é suficiente pra essa vida e mais muitas outras.
Quanto mais você cresce, mais cresço eu, e agradeço a chance de estar aqui ao seu lado. Que você continue engraçado, criativo, mau humorado (eu morro de rir), inteligente, e curioso. Sua jornada está só começando, e amo estar com você a cada ano.
Um beijo enorme da sua mamãe, meu menino grande!
Assinado: Mamacita.